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Inspirações Fé no Clima: “Juventude & Meio Ambiente: Dossiê Brasil”

Hoje, dia 12 de Agosto, é o Dia Internacional da Juventude, e a iniciativa Fé no Clima tem acompanhado o interesse e a atuação de jovens de fé no debate sobre as mudanças climáticas. Nesta data, chamamos a atenção para o artigo “Juventude e meio ambiente – Dossiê Brasil”, publicado em inglês pela Youth Press Agency (YPA) e produzido por 3 jovens brasileiros.

A YPA foi criada em 2005 durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, e está presente no Brasil, Itália, Argentina e Colômbia, atuando com jornalismo educomunicativo independente como ferramenta de transformação social e de defesa dos direitos humanos. O artigo traz  relatos baseados em fatos, questões históricas, reflexões e iniciativas de jovens brasileiros engajados na luta pelo clima, para que seja possível compreender o contexto desse cenário brasileiro que beira o apocalíptico.

O texto traz reflexões sobre como o modelo de produção e consumo desenfreados caracterizam a insustentabilidade que vivemos. O problema histórico do Brasil e o atual desmonte da política ambiental, que fortalece atividades como a mineração, o desmatamento e a concentração fundiária, são fatores determinantes para que os impactos socioambientais sejam cada vez maiores.  Um exemplo disso é que o próprio ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, está sendo investigado por um dos maiores crimes ambientais do país, relativo à tentativa de esquivar-se de autorizações para exportação de madeira.

Mesmo com tantos ataques contra ambientalistas e lideranças que lutam pela justiça socioambiental, torna-se ainda mais urgente que a sociedade civil continue atuando em defesa dos direitos ambientais. O artigo destaca que a falta de comprometimento de governos e tomadores de decisão sobre as mudanças climáticas fez com que jovens de todo o mundo se mobilizassem em busca de soluções que garantam a equidade intergeracional e a justiça climática.

Algumas organizações e movimentos citados são: Engajamundo, Fridays for Future Brasil, Perifa Sustentável, Muvuca e a Agência Jovem de Notícias (Youth Press Agency Brasil).

Para ler o texto em inglês na íntegra acesse este link.

Dia Internacional dos Povos Indígenas

Desde 1995, o dia 09 de agosto é marcado como “Dia Internacional dos Povos Indígenas”. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e chama atenção para a garantia de direitos aos povos indígenas de todo o planeta. Posteriormente, em 2006, foi elaborada e aprovada na Assembleia Geral da ONU a declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

Segundo o relatório “Governança florestal por povos indígenas e tribais” da ONU, apesar de os territórios indígenas cobrirem 28% da Bacia Amazônica, eles geraram apenas 2,6% das emissões de carbono relacionadas à destruição das florestas na região. Além de olharmos para a proteção das florestas, é fundamental também fortalecer a proteção dos povos indígenas, que estão cada vez mais em risco em um momento em que a política ambiental chega a um ponto crítico.

É nítido que os povos indígenas sempre foram os maiores guardiões das florestas e atores fundamentais para enfrentar a crise climática. Por isso, destacamos e reverenciamos aqui quatro lideranças que, junto aos seus povos, lutam pela defesa dos seus direitos e das florestas ancestrais tão importantes para o clima do planeta.

IPCC: Atividade humana é a principal causa do aquecimento global

Hoje foi divulgado o 6º Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) com as contribuições de 801 pesquisadores do mundo inteiro para o combate às mudanças climáticas. Uma das conclusões do documento é que a ação humana é responsável pela maior parte do aquecimento global observado neste último século.

As emissões de gases de efeito estufa acumuladas nesses anos tornaram irreversíveis alguns efeitos já vistos, como o degelo das geleiras e o aumento do nível do mar. O relatório, que também conta com a contribuição de 26 pesquisadores brasileiros, indica que para reduzir esse impacto humano é preciso reduzir as emissões a zero.

Para conferir o resumo em português elaborado pelo Observatório do Clima, clique aqui.

Para download do relatório em inglês, clique aqui.

25 de Julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

No dia 25 de julho celebramos o dia internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, uma data para reforçar a importância de refletir e de fortalecer as organizações voltadas a essas mulheres e suas diversas lutas.

No Brasil foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando uma dessas principais mulheres, símbolo de resistência e importante liderança na luta contra a escravização.

Apesar de os espaços de debate e decisão sobre crise climática serem majoritariamente ocupados por brancos e brancas, vemos cada vez mais mulheres negras que lutam contra o racismo ambiental e pela justiça climática, já que os impactos das mudanças climáticas afetam principalmente essa população.

A ONU Mulheres, Cepal e Fundação Friedrich Ebert lançaram o relatório sobre gênero, mudanças climáticas e sustentabilidade, que ressalta a importância de superar os desafios estruturais que envolvem as emergências climáticas, já que as mulheres negras são as mais afetadas pelas mudanças climáticas nos seus diversos contextos e realidades.

Fazemos aqui uma homenagem a quatro mulheres negras de origem latino-americana e caribenha, que trabalham com o ativismo climático, e que você precisa conhecer!

Em sentindo horário:

Michelle Gyles-McDonnough
A Jamaicana é Diretora da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Escritório Executivo da Secretaria Geral das Nações Unidas, Nova York. Também atuou como coordenadora do Programa de Recuperação de Granada, após os furacões que devastaram o país caribenho em 2004.

Maria do Socorro da Silva
É líder quilombola e ativista ambiental e tem dedicado a vida toda para defender onde vive, em Barcarena, no Pará. Ela foi eleita pelo jornal inglês The Guardian como uma dos nove ativistas mais relevantes da atualidade.

Amanda Costa
Amanda Costa é ativista climática, evangélica, jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no Youth 20, fundadora do Perifa Sustentável e em 2021 entrou para a lista #Under30 da revista Forbes.

Mãe Beth de Oxum
É Iyalorixá do Ilê Axé Oxum Karê, mestra coquista e comunicadora
pernambucana que milita pela preservação ambiental a partir da dimensão da natureza enquanto sagrado que é materialização dos orixás.

Chamada para jovens de fé da região amazônica

O clima está mudando cada vez mais rápido e afetando a vida de milhões de pessoas no mundo. Na fé e espiritualidade encontramos propósito para preservar, cuidar e enxergar a vida e o planeta como sagrado e isso reforça a dimensão da nossa responsabilidade.

E como a relação entre fé e juventudes pode construir soluções que diminuam os impactos da crise climática? A iniciativa Fé no Clima está buscando se conectar e ouvir jovens da região Amazônica para encontrar essas respostas!

Está a fim de saber mais ? Acesse e se inscreva no nosso formulário: https://bityli.com/MyzYY

Fé no Clima no Muvuca!

Na última quarta-feira, 6/7, foi a vez do Fé no Clima liderar uma das formações aulas do MUVUCA, o Programa de Ativismo Climático do Nossas. A convite da Iniciativa Fé no Clima – FnC, Rayana Burgos, Igor Bastos, Géssica Dias e Sérgio Besserman tiveram como missão falar aos jovens a respeito da intercessão entre fé eclima no contexto da crise climática. A mediação ficou por conta de Moema Salgado, membro da Iniciativa.

Abrindo as falas da noite, Rayana, que além de umbandista é ativista climática e cientista política, nos contou a respeito de como é a relação da natureza a partir da perspectiva da sua religião – a Umbanda: “(…) não tem como eu falar de Umbanda sem falar de indígenas e meio ambiente. A minha fé precisa da natureza para eu cultuar meus Orixás (…).

Em seguida, teve a palavra Igor Bastos. O jovem, que é católico e formado em engenharia, ressaltou que sua trajetória como ambientalista teve início com a sua participação na Pastoral da Terra. Ele, que também faz parte do Movimento de Católico Global pelo Clima, disse que foi nesse movimento que conseguiu conciliar o seu “lado” profissional e ambientalista. Ao final, Igor deixou uma importante mensagem aos jovens “Não deixem essa chama [o ativismo] se apagar. A sociedade […] precisa do engajamento de vocês ”.

A terceira a falar foi Géssica Dias, ela que é evangélica e que iniciou o seu ativismo ambiental a partir do seu trabalho como assistente social, disse que: “a minha relação com o Meio Ambiente eu digo que é um traçado de caminho que Deus colocou na minha vida”. Ela, que também realiza um processo de mobilização de outros jovens evangélicos a partir do grupo de estudos bíblicos Nós na Criação, acredita que é “preciso conhecer a bíblia a partir de uma perspectiva eco teológica”.

O último a se apresentar foi Sérgio Besserman. Ele que é um renomado economista e ambientalista e também um estudioso das mudanças climáticas há mais de duas décadas, trouxe um panorama da crise climática. Para Besserman, “Nós só temos chance [a humanidade] pela cultura, pelo que é humano. E na cultura, a espiritualidade está presente (…).

Dia do meio ambiente: confira quatro exemplos inspiradores de comunidades que unem fé e cuidado com a natureza

Neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, a iniciativa Fé no Clima apresenta alguns exemplos de projetos e ações que unem espiritualidade e responsabilidade ambiental. Desenvolvidas nos estados de Pernambuco e Rio de Janeiro, as práticas envolvem diferentes organizações de fé, mas com um resultado comum: promoção de qualidade de vida e de práticas sustentáveis. Confira!

1. Terreiro Ilé Àsé Ògún Alàkòró (RJ)

No Terreiro Ilé Àsé Ògún Alàkòró, no município de Magé (RJ), as crianças transformam lixo em arte, conta Pai Paulo de Ogum. O terreiro fica no Quilombo Quilombá, instalado próximo a onde existia um lixão. “Nossa prática religiosa cuida e interage com o meio ambiente em todas as circunstâncias”, afirma ele.

O quilombo desenvolveu o projeto Egba Egba Enigba Lati Bere Lati Feran Aiye! (Qualquer tempo é tempo para começar a amar a natureza!, na tradução do yorubá), para reunir diferentes profissionais preocupados com mais qualidade de vida.

2. Igreja Batista de Coqueiral (PE)

“Rio limpo, cidade saudável” é o nome do projeto elaborado pela igreja para promover a despoluição do Rio Tejipió, que circunda a edificação. Por meio do Instituto Solidário, que integra a instituição, a comunidade pensou em uma forma de se integrar mais ao ambiente ao seu redor. Gessica Dias, membra da igreja, afirma que a comunidade pensa de questões populares a iniciativas governamentais para incidir nas demandas do rio.

3. Cooperativa Terra (RJ)

A cooperativa, localizada no bairro Vieira, em Teresópolis (RJ), procura oferecer produtos agrícolas por preços justos a uma rede de igrejas. Natasha Gomes, que se apresenta como uma jovem de tradição católica, com caminhada ecumênica, participa da iniciativa. Segundo ela, a cooperativa discute agroecologia e relações de trabalho e gênero no campo, entre outras questões.

4. Movimento Católico Global pelo Clima (PE)

A limpeza da Pedreira, um dos pontos turísticos de Serra Talhada, é uma das ações relatadas por Paulo Ricardo Sampaio, animador Laudato Si’, do Movimento Católico Global pelo Clima da cidade pernambucana. Os membros do Capítulo de Serra Talhada também fizeram o plantio de árvores no Parque Estadual Mata da Pimenteira.

“A espiritualidade ecológica integral nos dá uma ideia de que não somos donos da natureza, mas que somos parte dela, somos parte da casa comum e que aqui fomos colocados para cultivá-la e guardá-la”, afirma o jovem.

A celebração do Dia do Meio Ambiente adquire um novo significado em um contexto de crises sanitária, política e econômica. Apesar de o tema ainda ser colocado em segundo plano por lideranças regionais, nacionais e internacionais, se relaciona fortemente com os desafios da humanidade nos tempos atuais.

É o que constatam o Pastor Ariovaldo, líder da Comunidade Cristã Renovada, o Rabino Dario Bialer, da Congregação Judaica do Brasil, e Mãe Nilce, Iyá Egbé do terreiro Ilê Omolu e Oxum. Eles compartilharam reflexões sobre a importância do cuidado com a natureza para superar as crises.

“Pense nas florestas tropicais, são responsáveis pelo ciclo das chuvas, se elas forem desbastadas será o fim das chuvas e, consequentemente, da vida”, lembra o pastor, que é um dos fundadores da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

Já o rabino propõe “uma leitura dos textos sagrados que nos leve a uma transformação concreta do mundo”. Ele lembra que “nos dois primeiros capítulos da Bíblia, nos encontramos com dois relatos sobre a criação do ser humano com papéis absolutamente antagônicos”.

Por isso, Dario Bialer ressalta que “a leitura correta religiosa desse texto (a Bíblia) não é quando escolhemos um ou outro (papel), mas quando entendemos que as duas opções são parte da mesma moeda do ser humano em interação com o meio ambiente”.

Ele convoca as pessoas a “tomar consciência, mudar comportamentos e hábitos e entender que se o ser humano não faz diferente, não vai ter Deus que venha fazer melhor no nosso lugar”. Mãe Nilce faz coro com o rabino: “se você agride a natureza você estará agredindo os Orishás, portanto preserve e proteja a natureza, os Orishás agradecem”.

Mudanças climáticas reforçam a importância da laudato sí e dos compromissos das religiões com o planeta

Foto: Ashwin Vaswani / Unsplash

Desafios apontados pela Carta Encíclica do Papa Francisco em relação à Terra seguem sem resolução seis anos após a divulgação do documento

Neste 24 de maio completa-se o sexto aniversário de publicação da Laudato Sí, a Carta Encíclica do Papa Francisco. Agora, conforme anúncio da própria liderança ecumênica, está previsto para o dia 25 de maio o lançamento da “Plataforma Laudato Sí”, que servirá como guia para todas as comunidades eclesiais assumirem um estilo de vida sustentável. “É um caminho que devemos continuar juntos, ouvindo o clamor da Terra e dos pobres”, afirmou o Papa em oração na Praça São Pedro, no Vaticano.

A data serve como reflexão para comunidades de fé em todo o mundo. No Brasil, o padre Josafá Carlos de Siqueira destacou com exclusividade para o ISER a atualidade dos desafios apontados pela Laudato Sí. Segundo ele, a “preocupação com o bem comum”, a “desigualdade planetária”, o “antropocentrismo desordenado” e a “ecologia integral” são os mais evidentes nos dias de hoje.

Padre Josafá lembra que “o bem comum é algo que pertence aos Estados nacionais, mas que ao mesmo tempo é patrimônio da casa comum planetária”. Ele acredita que há “necessidade de uma nova visão mais sistêmica do mundo e das relações entre as coisas” e que “esta visão contribui para o bem comum, o respeito pelas pessoas e as diferenças, os direitos fundamentais e inalienáveis e a justiça intergeracional”.

“Na Laudato Sí, o Papa Francisco diz que a melhor maneira de nos tirar do centro é retornar a colocar a Deus como centro e não em um lugar periférico da existência”, destaca o líder ecumênico. “As inúmeras campanhas solidárias e de inclusão social são exemplos claros dessa solidariedade emergente em prol das pessoas vulneráveis e desprovidas”, afirma Josafá.

A religião católica não é a única a assumir compromissos para o combate às mudanças climáticas e a preservação do planeta Terra. As religiões budista e islâmica também emitiram documentos com o endosso de lideranças, movimentos e organizações. “A hora de agir é agora” é o título da declaração budista, publicada pela primeira vez em 2009 e atualizada em 2015 na ocasião da 21ª Conferência do Clima (COP21).

Assinada por lideranças como Sua Santidade o 14º Dalai Lama, Mestre zen Thich Nhat Hanh, Sua Santidade o 17º Gyalwang Karmapa, bem como líderes budistas de Bangladesh, Japão, Coréia, Malásia, Mongólia, Mianmar, Sri Lanka e Vietnã, a declaração explora a relação de princípios budistas com os acordos básicos necessários para a vida em sociedade. Nesse sentido, o equilíbrio e a harmonia são alicerces fundamentais.

“Coletivamente, estamos violando o primeiro preceito – “não faça mal aos seres vivos” – na maior escala possível. E não podemos prever as consequências biológicas para a vida humana quando tantas espécies que contribuem invisivelmente para o nosso próprio bem-estar desaparecem do planeta”, lamenta o documento, que conta hoje com milhões de assinaturas, de acordo com o site Ecobuddhism.

A declaração alerta para a situação de emergência climática vivida pelo planeta Terra: “muitos cientistas concluíram que a sobrevivência da civilização humana está em jogo. Chegamos a um ponto crítico em nossa evolução biológica e social. Nunca houve um momento mais importante na história para usar os recursos do budismo em benefício de todos os seres vivos”.

Foto: Muhammad Numan / Unsplash

“Tanto como indivíduos quanto como espécie, sofremos de um senso de identidade que parece desconectado não apenas de outras pessoas, mas da própria Terra. Como Thích Nhat Hạnh diz, estamos aqui para despertar da ilusão de nossa separação”, lembra o documento. “A compulsão de consumir mais e mais é uma expressão de desejo, exatamente o que Buda identificou como a causa raiz do sofrimento”, afirma o texto.

“O ensino budista de que a saúde geral do indivíduo e da sociedade depende do bem-estar interior, e não apenas de indicadores econômicos, nos ajuda a determinar as mudanças pessoais e sociais que devemos fazer. […] Precisamos acordar e perceber que a Terra é nossa mãe e também nosso lar – e, neste caso, o cordão umbilical que nos liga a ela não pode ser cortado. Quando a Terra adoece, adoecemos, porque somos parte dela”.

Budistas se responsabilizam pela redução da emissão e pela remoção dos gases do efeito estufa

A declaração lembra que o nível de dióxido de carbono na atmosfera já é de 400 partes por milhão (ppm) e tem aumentado para 2 ppm por ano. No contexto da sensibilidade climática, essa concentração de CO2 na atmosfera representa uma expectativa de aquecimento de 1,6°C acima do período pré-industrial.

“Unimo-nos ao Dalai Lama para endossar a meta de 350 ppm. De acordo com os ensinamentos budistas, aceitamos nossa responsabilidade individual e coletiva de fazer tudo o que pudermos para atingir essa meta, incluindo (mas não se limitando) as respostas pessoais e sociais descritas”,
“Temos uma breve janela de oportunidade para agir, para preservar a humanidade de um desastre iminente e para ajudar a sobrevivência das muitas e belas formas de vida na Terra. As gerações futuras e as outras espécies que compartilham a biosfera conosco não têm voz para pedir nossa compaixão, sabedoria e liderança. Devemos ouvir seu silêncio. Devemos ser sua voz também e agir em seu nome”, propõe o documento.

Declaração Islâmica cita grande proporção de adeptos da religião no mundo para reforçar a importância do compromisso com o meio ambiente

Segundo matéria realizada por organizações, acadêmicos e ambientalistas muçulmanos, estima-se que haja cerca de 1,6 bilhão de muçulmanos no mundo hoje e isso se aproxima de mais de 20% da população mundial. A declaração, apresentada em simpósio na cidade de Istambul em 2015, cita trechos do Alcorão, o livro sagrado do Islã, para ressaltar as responsabilidades que todos os muçulmanos devem reconhecer para com o planeta Terra.

O documento associa os preceitos da religião islâmica à relação que a humanidade deve estabelecer com a natureza. “Não temos o direito de abusar da Criação ou prejudicá-la. Nossa fé nos ordena que tratemos todas as coisas com cuidado e admiração (taqwā) por seus Criador, compaixão (rahmah) e máximo bem (ihsān)”, diz um dos trechos.

“A perturbação do clima global é uma consequência da nossa corrupção na terra. Somos apenas um da multidão de seres vivos com quem compartilhamos a terra, e uma minúscula parte da ordem divina, mas temos um poder excepcional e temos a responsabilidade de estabelecer o bem e evitar o mal de todas as maneiras que pudermos”, continua.

Disputa de imaginário, garantia de direitos básicos e defesa de territórios: as principais reivindicações no Dia de Resistência dos Povos Indígenas

O dia 19 de abril envolve diferentes significados. Para alguns, é Dia de Resistência e Luta dos Povos Indígenas. Para outros, Dia do Índio. De fato, muitos destes ainda guardam uma visão limitada sobre os povos indígenas. Não por acaso, a ressignificação desse imaginário social tem sido uma das frentes de atuação de movimentos sociais e jovens como Mirim Ju Yan Guarani e Raquel Tupinambá.

Mirim Ju Yan Guarani, xondaro da aldeia Tekoa Itakupe e integrante do Nheeporã línguas originárias e do Engajamundo

“Existe um estereótipo do indígena ou do índio criado no imaginário da sociedade, que é daquele ser atrasado que tem uma relação com a floresta e por isso é inferiorizado”, constata a Kassika da aldeia Surucuá. “Os povos indígenas também foram vistos como seres a serem colonizados e escravizados. Isso ainda hoje está muito forte no imaginário da sociedade”, afirma Raquel.

Raquel Tupinambá, Kassika da aldeia Surucuá, povo Tupinambá do Tapajós. Agricultora e membra da Associação de Moradores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós. Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Brasília

A falta de conhecimento sobre a história e a diversidade da cultura indígena está na origem da falta de políticas públicas destinadas a essa população, apesar de os seus direitos estarem previstos na Constituição. “Ainda hoje sofremos com a sua inoperância [do Estado], com uma governança contrária à constituição e às leis, permitindo toda violência contra nós”, afirma Mirim Ju Yan Guarani, xondaro da aldeia Tekoa Itakupe. O “xondaro” remete a uma dança (xondaro jeroky) em que os guaranis treinam sobretudo suas habilidades de esquiva. “Nosso maior problema é a falta de justiça”, destaca ele.

A violência contra os povos indígenas não acontece apenas em forma simbólica e física, mas também no âmbito institucional. “Por exemplo, a gente está vivenciando hoje a pressão do atual governo para facilitar a mineração em terras indígenas”, cita Raquel. É o caso do Projeto de Lei (PL) 191/2020, apresentado ao Congresso pelo governo de Jair Bolsonaro.

As investidas contra os territórios indígenas também envolvem arrendamentos de terra e extração ilegal de madeira. “A gente tem visto esse governo posar com parentes de algumas etnias afirmando que os povos indígenas estão do seu lado. Tem esse viés de compra dos parentes, de fazer com que sejam cooptados para defender esses interesses”, conta Raquel, que também é membra da Associação de Moradores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós.

Além disso, a pandemia também tem evidenciado a falta de garantia de direitos básicos para a população indígena, como o acesso à saúde. Raquel explica: “uma das pautas que estão sendo bastante defendidas é a questão da vacinação. Principalmente para os que estão em áreas urbanas. Também foi negada a assistência da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena, vinculada ao Ministério da Saúde] para a população indígena em cidades”, ela denuncia.

Diante dessas muitas e múltiplas dificuldades e violências, os “grupos, comunidades e organizações indígenas têm levantado modos de arrecadação financeira e de formação de alianças para receber apoio e conseguir proteger nossos territórios, culturas e naturezas. Ou seja, o equilíbrio da vida”, resume Mirim Ju, que é integrante da organização Nheeporã línguas originárias e também do coletivo Engajamundo.

Consciência ancestral e preservação

Esses jovens chamam a sociedade para apoiar e se engajar na pressão pela garantia de direitos, reconhecimento e respeito à cultura e memória indígenas. “São mais que pautas de luta, é pela consciência da Terra, pelo sagrado. Nós temos muito que ensinar, mas do nosso modo. Aprender com os povos indígenas é abrir-se para a consciência ancestral. Aprendam com a Terra, cuidar dela é honrar toda vida que existiu”, convida Mirim Ju.

Portanto, a luta indígena é uma luta pela Natureza. Raquel reconhece: “hoje, com grandes áreas desmatadas de floresta na Amazônia, vivemos aumento da temperatura, vivenciamos degelo, vivenciamos extinção em massa de espécies. Então a nossa espiritualidade é muito fundada nessa relação com a Natureza, com os seres da Natureza. A gente cuida da floresta porque a gente também tem respeito por ela”. Por Júlia Boardman

Povos Sagrados, Terra Sagrada: campanha por justiça climática mobiliza comunidades de fé em 43 países | ISER

É hoje! Com mais de 400 ações em 43 países, a campanha Povos Sagrados, Terra Sagrada (Sacred People, Sacred Earth) mobiliza comunidades de fé em prol da justiça climática no planeta. O ISER, por meio do projeto Fé no Clima, é uma das instituições organizadoras e responsável pela articulação com diferentes comunidades no Brasil.

Confira nossa mensagem neste 11 de março, data da mobilização global:

Em 2020, o GreenFaith International, rede multi-religiosa da qual o ISER faz parte, lançou a declaração Sacred People, Sacred Earth (Povos Sagrados, Terra Sagrada), em diferentes regiões do planeta. O manifesto marcou o início das mobilizações para este dia inter-religioso mundial pela ação climática.

Ao longo do dia, você e sua comunidade ainda podem participar. Divulgue sua ação nas redes sociais com as hashtags #SacredPeopleSacredEarth e #Faiths4Climate e junte-se a uma comunidade global, preocupada com o futuro da Terra.

Assine o manifesto

Foto: ARRCC

Os primeiros atos foram realizados na Austrália, país que programou 120 ações para a campanha. Entre as demandas endereçadas ao primeiro-ministro do país, Scott Morrison, está a redução a zero das emissões de gases do efeito estufa até 2030.