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Live – Elas pelo Clima: mulheres e suas espiritualidades pela ação climática

Para entender os efeitos das mudanças climáticas é fundamental termos um olhar para a vida das mulheres em suas diferentes realidades.

A ONU Mulheres , Cepal e a Fundação Friedrich Ebert já ressaltaram no relatório sobre gênero, mudanças climáticas e sustentabilidade a importância de superar os desafios estruturais que envolvem as emergências climáticas, já que as mulheres são as mais afetadas nos seus mais diversos contextos e realidades, principalmente as mulheres negras, indígenas, agricultoras, quilombolas e ribeirinhas.

As igrejas, terreiros e outros espaços de fé são centrais na socialização de muitas mulheres desde a infância e se tornaram berços de movimentos sociais importantes.

Qual a importância do papel das mulheres para ação climática? Como suas religiões e espiritualidades contribuem com essa luta?
Nesta quarta feira 15/09 às 18h, teremos mais uma live do Fé no Clima e desta vez relacionando os temas sobre mudanças climáticas, gênero e espiritualidades!

Venha participar do encontro “Elas pelo Clima: mulheres e suas espiritualidades pela ação climática.”

Transformar o mundo unindo as espiritualidades ao ativismo climático

Essa foi a síntese das mensagens que quatro jovens ativistas climáticos apresentaram durante suas falas na live “Que climão! O que os jovens e suas espiritualidades nos ensinam sobre a crise climática”. Esse, que foi o primeiro de uma série de três lives que o ISER está promovendo em comemoração aos seus 51 anos, trouxe para o diálogo os jovens de diferentes espiritualidades para falarem sobre a relação entre fé, juventudes e espiritualidades. Sob a mediação de Karina Penha, bióloga, ativista climática e também membro da equipe do Fé no Clima, Amanda Costa, Rayana Burgos, Txai Suruí e Paulo Ricardo foram os convidados do encontro.

A intersecção entre espiritualidade e ativismo climático

“A gente se relaciona com o divino para, primeiro, que a gente possa transformar a nós mesmos e depois o ambiente que a gente ocupa”, disse Amanda Costa. Ela, que é evangélica, embaixadora jovem da ONU e fundadora do Perifa Sustentável diz que“Deus me chamou para chacoalhar as pessoas e provocar esse debate, provocar esse despertar social”.

“Desde sempre a minha espiritualidade está ligada ao ativismo até porque o ativismo está ligado à minha cultura. Quando a gente nasce indígena, já está na luta pelos nossos direitos, pelo território, pela floresta (…)”, disse Txai Suruí, jovem indígena do Povo Paiter Suruí e fundadora do movimento da Juventude Indígena de Rondônia.

A fé e o agir

A cientista política e coordenadora do Hub de Pernambuco do Youth Climate Leaders, Rayana Burgos, compreende que “a geração de terreiro já cresce inserida dentro de um debate ambiental, (…) mas existe uma diferença entre estar inserido no debate ambiental e estar inserido no debate sobre a crise climática. (…) Esse é um conhecimento ainda de uma elite e eu me coloco dentro dessa elite, porque eu tenho acesso a esse conhecimento.”. Para ela, que é umbandista, ter esse acesso a imputa uma responsabilidade: “tendo acesso a esse conhecimento, eu tenho um papel de papel de repassá-lo, pois foi assim que eu aprendi na Umbanda.”

Paulo Ricardo, jovem católico que atua como animador da Laudato si’ e bacharel em direito, declarou queo movimento Laudato si’ e seu aprofundamento com a teologia que apresenta a libertação o fez despertar para a vida. Segundo ele, “não dá pra separar a fé da vida”.
De acordo com Txai Suruí, “a gente parou de ouvir o que a floresta está falando (…) O ser humano parou de escutar (…). Os povos indígenas sabem ouvir o que a floresta está dizendo”.

Fé e Ciência somando saberes para enfrentar a crise climática

Hoje completamos seis anos da iniciativa Fé no Clima! Nossa missão principal é engajar lideranças religiosas e comunidades de fé na conscientização e ação contra a crise climática. Fazemos isso por meio do diálogo entre cientistas, religiosos, ambientalistas e representantes de povos originários, com objetivos de conscientização, adaptação, resiliência e justiça climática.

Nesse mesmo mês de agosto de 2021, foi publicado o 6º relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que é uma entidade criada em 1988 pela ONU e reúne cientistas do mundo inteiro para produzir regularmente relatórios de avaliação sobre as mudanças climáticas.
O relatório confirma, a partir dos inúmeros estudos científicos, que a ação humana é a principal causa do aquecimento global, que está apontando para um cenário de emergência climática. Diante desse contexto, qual a pertinência de iniciativas como o Fé no Clima, que busca relacionar proteção ambiental com as crenças e espiritualidades?

O ambientalista e parceiro do Fé no Clima, Sérgio Besserman, traz uma importante reflexão quanto a isso:

“A crise climática destrói a natureza existente no planeta do nosso tempo, vitimiza os vulneráveis de forma impiedosa, traz um risco para a civilização. Enfrentá-la não é apenas, e nem principalmente, uma questão tecnológica, e sim humana, no sentido da consciência, empatia e compaixão. Sem as forças da espiritualidade, das comunidades de fé engajadas nessa luta e transformação histórica, as chances da humanidade para enfrentar o desafio são muito menores e o que virá tem menos chances de ser um mundo melhor.”

Pastor Ariovaldo, um dos membros fundadores do Fé no Clima, também coloca que “nenhuma espiritualidade saudável, principalmente após o relatório do IPCC, poderá omitir de sua mística e prática o dever de salvar o planeta. Logo, toda espiritualidade terá como prioridade despertar a consciência humana quanto ao nosso débito para com a casa comum”.

Para o Pe. Josafá Siqueira, também membro fundador do Fé no Clima: “humanamente temos que reconhecer a nossa imensa responsabilidade nestas mudanças planetárias, com a consciência que ainda é possível buscar alternativas sustentáveis para minimizar esse grave problema que afeta a nossa casa comum”.

Sobre o enfrentamento da crise climática, a ex-ministra do meio ambiente Izabella Teixeira também ressalta os valores do humanismo como ferramenta fundamental dessa luta:

“Lutar contra a crise climática envolve emprestar ao mundo mais solidariedade, nós temos que ter um pragmatismo, um realismo planetário e entender que a sociedade está toda conectada porque o planeta é um só.(…) Nós somos capazes de construir soluções a partir de uma nova expressão do humanismo, independentemente das nossas crenças, fés e etnias, precisamos agir com a firme convicção de que precisamos ter uma nova relação com a natureza, mais construtiva, mais justa e sustentável. Reconhecendo seus erros e buscando os acertos.”

A jovem umbandista, cientista política e ativista ambiental, Rayanna Burgos, traz também mensagens de esperança e de incentivo para esse caminho para novos rumos:

“Nós, seres humanos, somos os maiores responsáveis pela crise climática. Mas diante desse cenário, não devemos ter medo. Temos que agir com coragem, porque a nossa fé é destemida. Aprendemos desde cedo a ter um olhar holístico sobre a vida e acreditamos na lei da ação e reação – repetir o comportamento do passado não vai nos levar a um novo futuro. Por isso, temos que defender o planeta e os nossos Orixás com novos comportamentos e perspectivas. Sabemos que o som do nosso batuque costuma anunciar o novo tempo, e para enfrentar a crise climática, o novo tempo deve começar agora! Sigamos em frente. Que Oxalá nos guie!”

Esses depoimentos, tão realistas e inspiradores, apontam os desafios e a potência do trabalho do Fé no Clima, que seguirá firme na mobilização e no engajamento de diferentes visões e espiritualidades pelo enfrentamento à crise climática.

Por ocasião dos seis anos de nossa caminhada coletiva, gostaríamos de celebrar e agradecer parceiros e parceiras, religiosos e religiosas, cientistas e ambientalistas, juventudes e as demais gerações que contribuem para a construção de um mundo mais justo e sustentável. Essa rede tão potente de pessoas e organizações mostra a importância do esforço coletivo e coordenado, urgente e contínuo, insistente e incansável pela proteção do que há de mais essencial e mais sagrado, que é a vida na Terra, na nossa Casa Comum.

Para saber mais sobre o relatório do IPCC, acesse este resumo em português elaborado pelo Observatório do Clima.

Inspirações Fé no Clima: “Juventude & Meio Ambiente: Dossiê Brasil”

Hoje, dia 12 de Agosto, é o Dia Internacional da Juventude, e a iniciativa Fé no Clima tem acompanhado o interesse e a atuação de jovens de fé no debate sobre as mudanças climáticas. Nesta data, chamamos a atenção para o artigo “Juventude e meio ambiente – Dossiê Brasil”, publicado em inglês pela Youth Press Agency (YPA) e produzido por 3 jovens brasileiros.

A YPA foi criada em 2005 durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, e está presente no Brasil, Itália, Argentina e Colômbia, atuando com jornalismo educomunicativo independente como ferramenta de transformação social e de defesa dos direitos humanos. O artigo traz  relatos baseados em fatos, questões históricas, reflexões e iniciativas de jovens brasileiros engajados na luta pelo clima, para que seja possível compreender o contexto desse cenário brasileiro que beira o apocalíptico.

O texto traz reflexões sobre como o modelo de produção e consumo desenfreados caracterizam a insustentabilidade que vivemos. O problema histórico do Brasil e o atual desmonte da política ambiental, que fortalece atividades como a mineração, o desmatamento e a concentração fundiária, são fatores determinantes para que os impactos socioambientais sejam cada vez maiores.  Um exemplo disso é que o próprio ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, está sendo investigado por um dos maiores crimes ambientais do país, relativo à tentativa de esquivar-se de autorizações para exportação de madeira.

Mesmo com tantos ataques contra ambientalistas e lideranças que lutam pela justiça socioambiental, torna-se ainda mais urgente que a sociedade civil continue atuando em defesa dos direitos ambientais. O artigo destaca que a falta de comprometimento de governos e tomadores de decisão sobre as mudanças climáticas fez com que jovens de todo o mundo se mobilizassem em busca de soluções que garantam a equidade intergeracional e a justiça climática.

Algumas organizações e movimentos citados são: Engajamundo, Fridays for Future Brasil, Perifa Sustentável, Muvuca e a Agência Jovem de Notícias (Youth Press Agency Brasil).

Para ler o texto em inglês na íntegra acesse este link.

Dia Internacional dos Povos Indígenas

Desde 1995, o dia 09 de agosto é marcado como “Dia Internacional dos Povos Indígenas”. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e chama atenção para a garantia de direitos aos povos indígenas de todo o planeta. Posteriormente, em 2006, foi elaborada e aprovada na Assembleia Geral da ONU a declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

Segundo o relatório “Governança florestal por povos indígenas e tribais” da ONU, apesar de os territórios indígenas cobrirem 28% da Bacia Amazônica, eles geraram apenas 2,6% das emissões de carbono relacionadas à destruição das florestas na região. Além de olharmos para a proteção das florestas, é fundamental também fortalecer a proteção dos povos indígenas, que estão cada vez mais em risco em um momento em que a política ambiental chega a um ponto crítico.

É nítido que os povos indígenas sempre foram os maiores guardiões das florestas e atores fundamentais para enfrentar a crise climática. Por isso, destacamos e reverenciamos aqui quatro lideranças que, junto aos seus povos, lutam pela defesa dos seus direitos e das florestas ancestrais tão importantes para o clima do planeta.

IPCC: Atividade humana é a principal causa do aquecimento global

Hoje foi divulgado o 6º Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) com as contribuições de 801 pesquisadores do mundo inteiro para o combate às mudanças climáticas. Uma das conclusões do documento é que a ação humana é responsável pela maior parte do aquecimento global observado neste último século.

As emissões de gases de efeito estufa acumuladas nesses anos tornaram irreversíveis alguns efeitos já vistos, como o degelo das geleiras e o aumento do nível do mar. O relatório, que também conta com a contribuição de 26 pesquisadores brasileiros, indica que para reduzir esse impacto humano é preciso reduzir as emissões a zero.

Para conferir o resumo em português elaborado pelo Observatório do Clima, clique aqui.

Para download do relatório em inglês, clique aqui.

25 de Julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

No dia 25 de julho celebramos o dia internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, uma data para reforçar a importância de refletir e de fortalecer as organizações voltadas a essas mulheres e suas diversas lutas.

No Brasil foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando uma dessas principais mulheres, símbolo de resistência e importante liderança na luta contra a escravização.

Apesar de os espaços de debate e decisão sobre crise climática serem majoritariamente ocupados por brancos e brancas, vemos cada vez mais mulheres negras que lutam contra o racismo ambiental e pela justiça climática, já que os impactos das mudanças climáticas afetam principalmente essa população.

A ONU Mulheres, Cepal e Fundação Friedrich Ebert lançaram o relatório sobre gênero, mudanças climáticas e sustentabilidade, que ressalta a importância de superar os desafios estruturais que envolvem as emergências climáticas, já que as mulheres negras são as mais afetadas pelas mudanças climáticas nos seus diversos contextos e realidades.

Fazemos aqui uma homenagem a quatro mulheres negras de origem latino-americana e caribenha, que trabalham com o ativismo climático, e que você precisa conhecer!

Em sentindo horário:

Michelle Gyles-McDonnough
A Jamaicana é Diretora da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Escritório Executivo da Secretaria Geral das Nações Unidas, Nova York. Também atuou como coordenadora do Programa de Recuperação de Granada, após os furacões que devastaram o país caribenho em 2004.

Maria do Socorro da Silva
É líder quilombola e ativista ambiental e tem dedicado a vida toda para defender onde vive, em Barcarena, no Pará. Ela foi eleita pelo jornal inglês The Guardian como uma dos nove ativistas mais relevantes da atualidade.

Amanda Costa
Amanda Costa é ativista climática, evangélica, jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no Youth 20, fundadora do Perifa Sustentável e em 2021 entrou para a lista #Under30 da revista Forbes.

Mãe Beth de Oxum
É Iyalorixá do Ilê Axé Oxum Karê, mestra coquista e comunicadora
pernambucana que milita pela preservação ambiental a partir da dimensão da natureza enquanto sagrado que é materialização dos orixás.

Chamada para jovens de fé da região amazônica

O clima está mudando cada vez mais rápido e afetando a vida de milhões de pessoas no mundo. Na fé e espiritualidade encontramos propósito para preservar, cuidar e enxergar a vida e o planeta como sagrado e isso reforça a dimensão da nossa responsabilidade.

E como a relação entre fé e juventudes pode construir soluções que diminuam os impactos da crise climática? A iniciativa Fé no Clima está buscando se conectar e ouvir jovens da região Amazônica para encontrar essas respostas!

Está a fim de saber mais ? Acesse e se inscreva no nosso formulário: https://bityli.com/MyzYY

Fé no Clima no Muvuca!

Na última quarta-feira, 6/7, foi a vez do Fé no Clima liderar uma das formações aulas do MUVUCA, o Programa de Ativismo Climático do Nossas. A convite da Iniciativa Fé no Clima – FnC, Rayana Burgos, Igor Bastos, Géssica Dias e Sérgio Besserman tiveram como missão falar aos jovens a respeito da intercessão entre fé eclima no contexto da crise climática. A mediação ficou por conta de Moema Salgado, membro da Iniciativa.

Abrindo as falas da noite, Rayana, que além de umbandista é ativista climática e cientista política, nos contou a respeito de como é a relação da natureza a partir da perspectiva da sua religião – a Umbanda: “(…) não tem como eu falar de Umbanda sem falar de indígenas e meio ambiente. A minha fé precisa da natureza para eu cultuar meus Orixás (…).

Em seguida, teve a palavra Igor Bastos. O jovem, que é católico e formado em engenharia, ressaltou que sua trajetória como ambientalista teve início com a sua participação na Pastoral da Terra. Ele, que também faz parte do Movimento de Católico Global pelo Clima, disse que foi nesse movimento que conseguiu conciliar o seu “lado” profissional e ambientalista. Ao final, Igor deixou uma importante mensagem aos jovens “Não deixem essa chama [o ativismo] se apagar. A sociedade […] precisa do engajamento de vocês ”.

A terceira a falar foi Géssica Dias, ela que é evangélica e que iniciou o seu ativismo ambiental a partir do seu trabalho como assistente social, disse que: “a minha relação com o Meio Ambiente eu digo que é um traçado de caminho que Deus colocou na minha vida”. Ela, que também realiza um processo de mobilização de outros jovens evangélicos a partir do grupo de estudos bíblicos Nós na Criação, acredita que é “preciso conhecer a bíblia a partir de uma perspectiva eco teológica”.

O último a se apresentar foi Sérgio Besserman. Ele que é um renomado economista e ambientalista e também um estudioso das mudanças climáticas há mais de duas décadas, trouxe um panorama da crise climática. Para Besserman, “Nós só temos chance [a humanidade] pela cultura, pelo que é humano. E na cultura, a espiritualidade está presente (…).