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Mudanças climáticas reforçam a importância da laudato sí e dos compromissos das religiões com o planeta

Foto: Ashwin Vaswani / Unsplash

Desafios apontados pela Carta Encíclica do Papa Francisco em relação à Terra seguem sem resolução seis anos após a divulgação do documento

Neste 24 de maio completa-se o sexto aniversário de publicação da Laudato Sí, a Carta Encíclica do Papa Francisco. Agora, conforme anúncio da própria liderança ecumênica, está previsto para o dia 25 de maio o lançamento da “Plataforma Laudato Sí”, que servirá como guia para todas as comunidades eclesiais assumirem um estilo de vida sustentável. “É um caminho que devemos continuar juntos, ouvindo o clamor da Terra e dos pobres”, afirmou o Papa em oração na Praça São Pedro, no Vaticano.

A data serve como reflexão para comunidades de fé em todo o mundo. No Brasil, o padre Josafá Carlos de Siqueira destacou com exclusividade para o ISER a atualidade dos desafios apontados pela Laudato Sí. Segundo ele, a “preocupação com o bem comum”, a “desigualdade planetária”, o “antropocentrismo desordenado” e a “ecologia integral” são os mais evidentes nos dias de hoje.

Padre Josafá lembra que “o bem comum é algo que pertence aos Estados nacionais, mas que ao mesmo tempo é patrimônio da casa comum planetária”. Ele acredita que há “necessidade de uma nova visão mais sistêmica do mundo e das relações entre as coisas” e que “esta visão contribui para o bem comum, o respeito pelas pessoas e as diferenças, os direitos fundamentais e inalienáveis e a justiça intergeracional”.

“Na Laudato Sí, o Papa Francisco diz que a melhor maneira de nos tirar do centro é retornar a colocar a Deus como centro e não em um lugar periférico da existência”, destaca o líder ecumênico. “As inúmeras campanhas solidárias e de inclusão social são exemplos claros dessa solidariedade emergente em prol das pessoas vulneráveis e desprovidas”, afirma Josafá.

A religião católica não é a única a assumir compromissos para o combate às mudanças climáticas e a preservação do planeta Terra. As religiões budista e islâmica também emitiram documentos com o endosso de lideranças, movimentos e organizações. “A hora de agir é agora” é o título da declaração budista, publicada pela primeira vez em 2009 e atualizada em 2015 na ocasião da 21ª Conferência do Clima (COP21).

Assinada por lideranças como Sua Santidade o 14º Dalai Lama, Mestre zen Thich Nhat Hanh, Sua Santidade o 17º Gyalwang Karmapa, bem como líderes budistas de Bangladesh, Japão, Coréia, Malásia, Mongólia, Mianmar, Sri Lanka e Vietnã, a declaração explora a relação de princípios budistas com os acordos básicos necessários para a vida em sociedade. Nesse sentido, o equilíbrio e a harmonia são alicerces fundamentais.

“Coletivamente, estamos violando o primeiro preceito – “não faça mal aos seres vivos” – na maior escala possível. E não podemos prever as consequências biológicas para a vida humana quando tantas espécies que contribuem invisivelmente para o nosso próprio bem-estar desaparecem do planeta”, lamenta o documento, que conta hoje com milhões de assinaturas, de acordo com o site Ecobuddhism.

A declaração alerta para a situação de emergência climática vivida pelo planeta Terra: “muitos cientistas concluíram que a sobrevivência da civilização humana está em jogo. Chegamos a um ponto crítico em nossa evolução biológica e social. Nunca houve um momento mais importante na história para usar os recursos do budismo em benefício de todos os seres vivos”.

Foto: Muhammad Numan / Unsplash

“Tanto como indivíduos quanto como espécie, sofremos de um senso de identidade que parece desconectado não apenas de outras pessoas, mas da própria Terra. Como Thích Nhat Hạnh diz, estamos aqui para despertar da ilusão de nossa separação”, lembra o documento. “A compulsão de consumir mais e mais é uma expressão de desejo, exatamente o que Buda identificou como a causa raiz do sofrimento”, afirma o texto.

“O ensino budista de que a saúde geral do indivíduo e da sociedade depende do bem-estar interior, e não apenas de indicadores econômicos, nos ajuda a determinar as mudanças pessoais e sociais que devemos fazer. […] Precisamos acordar e perceber que a Terra é nossa mãe e também nosso lar – e, neste caso, o cordão umbilical que nos liga a ela não pode ser cortado. Quando a Terra adoece, adoecemos, porque somos parte dela”.

Budistas se responsabilizam pela redução da emissão e pela remoção dos gases do efeito estufa

A declaração lembra que o nível de dióxido de carbono na atmosfera já é de 400 partes por milhão (ppm) e tem aumentado para 2 ppm por ano. No contexto da sensibilidade climática, essa concentração de CO2 na atmosfera representa uma expectativa de aquecimento de 1,6°C acima do período pré-industrial.

“Unimo-nos ao Dalai Lama para endossar a meta de 350 ppm. De acordo com os ensinamentos budistas, aceitamos nossa responsabilidade individual e coletiva de fazer tudo o que pudermos para atingir essa meta, incluindo (mas não se limitando) as respostas pessoais e sociais descritas”,
“Temos uma breve janela de oportunidade para agir, para preservar a humanidade de um desastre iminente e para ajudar a sobrevivência das muitas e belas formas de vida na Terra. As gerações futuras e as outras espécies que compartilham a biosfera conosco não têm voz para pedir nossa compaixão, sabedoria e liderança. Devemos ouvir seu silêncio. Devemos ser sua voz também e agir em seu nome”, propõe o documento.

Declaração Islâmica cita grande proporção de adeptos da religião no mundo para reforçar a importância do compromisso com o meio ambiente

Segundo matéria realizada por organizações, acadêmicos e ambientalistas muçulmanos, estima-se que haja cerca de 1,6 bilhão de muçulmanos no mundo hoje e isso se aproxima de mais de 20% da população mundial. A declaração, apresentada em simpósio na cidade de Istambul em 2015, cita trechos do Alcorão, o livro sagrado do Islã, para ressaltar as responsabilidades que todos os muçulmanos devem reconhecer para com o planeta Terra.

O documento associa os preceitos da religião islâmica à relação que a humanidade deve estabelecer com a natureza. “Não temos o direito de abusar da Criação ou prejudicá-la. Nossa fé nos ordena que tratemos todas as coisas com cuidado e admiração (taqwā) por seus Criador, compaixão (rahmah) e máximo bem (ihsān)”, diz um dos trechos.

“A perturbação do clima global é uma consequência da nossa corrupção na terra. Somos apenas um da multidão de seres vivos com quem compartilhamos a terra, e uma minúscula parte da ordem divina, mas temos um poder excepcional e temos a responsabilidade de estabelecer o bem e evitar o mal de todas as maneiras que pudermos”, continua.

Disputa de imaginário, garantia de direitos básicos e defesa de territórios: as principais reivindicações no Dia de Resistência dos Povos Indígenas

O dia 19 de abril envolve diferentes significados. Para alguns, é Dia de Resistência e Luta dos Povos Indígenas. Para outros, Dia do Índio. De fato, muitos destes ainda guardam uma visão limitada sobre os povos indígenas. Não por acaso, a ressignificação desse imaginário social tem sido uma das frentes de atuação de movimentos sociais e jovens como Mirim Ju Yan Guarani e Raquel Tupinambá.

Mirim Ju Yan Guarani, xondaro da aldeia Tekoa Itakupe e integrante do Nheeporã línguas originárias e do Engajamundo

“Existe um estereótipo do indígena ou do índio criado no imaginário da sociedade, que é daquele ser atrasado que tem uma relação com a floresta e por isso é inferiorizado”, constata a Kassika da aldeia Surucuá. “Os povos indígenas também foram vistos como seres a serem colonizados e escravizados. Isso ainda hoje está muito forte no imaginário da sociedade”, afirma Raquel.

Raquel Tupinambá, Kassika da aldeia Surucuá, povo Tupinambá do Tapajós. Agricultora e membra da Associação de Moradores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós. Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Brasília

A falta de conhecimento sobre a história e a diversidade da cultura indígena está na origem da falta de políticas públicas destinadas a essa população, apesar de os seus direitos estarem previstos na Constituição. “Ainda hoje sofremos com a sua inoperância [do Estado], com uma governança contrária à constituição e às leis, permitindo toda violência contra nós”, afirma Mirim Ju Yan Guarani, xondaro da aldeia Tekoa Itakupe. O “xondaro” remete a uma dança (xondaro jeroky) em que os guaranis treinam sobretudo suas habilidades de esquiva. “Nosso maior problema é a falta de justiça”, destaca ele.

A violência contra os povos indígenas não acontece apenas em forma simbólica e física, mas também no âmbito institucional. “Por exemplo, a gente está vivenciando hoje a pressão do atual governo para facilitar a mineração em terras indígenas”, cita Raquel. É o caso do Projeto de Lei (PL) 191/2020, apresentado ao Congresso pelo governo de Jair Bolsonaro.

As investidas contra os territórios indígenas também envolvem arrendamentos de terra e extração ilegal de madeira. “A gente tem visto esse governo posar com parentes de algumas etnias afirmando que os povos indígenas estão do seu lado. Tem esse viés de compra dos parentes, de fazer com que sejam cooptados para defender esses interesses”, conta Raquel, que também é membra da Associação de Moradores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós.

Além disso, a pandemia também tem evidenciado a falta de garantia de direitos básicos para a população indígena, como o acesso à saúde. Raquel explica: “uma das pautas que estão sendo bastante defendidas é a questão da vacinação. Principalmente para os que estão em áreas urbanas. Também foi negada a assistência da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena, vinculada ao Ministério da Saúde] para a população indígena em cidades”, ela denuncia.

Diante dessas muitas e múltiplas dificuldades e violências, os “grupos, comunidades e organizações indígenas têm levantado modos de arrecadação financeira e de formação de alianças para receber apoio e conseguir proteger nossos territórios, culturas e naturezas. Ou seja, o equilíbrio da vida”, resume Mirim Ju, que é integrante da organização Nheeporã línguas originárias e também do coletivo Engajamundo.

Consciência ancestral e preservação

Esses jovens chamam a sociedade para apoiar e se engajar na pressão pela garantia de direitos, reconhecimento e respeito à cultura e memória indígenas. “São mais que pautas de luta, é pela consciência da Terra, pelo sagrado. Nós temos muito que ensinar, mas do nosso modo. Aprender com os povos indígenas é abrir-se para a consciência ancestral. Aprendam com a Terra, cuidar dela é honrar toda vida que existiu”, convida Mirim Ju.

Portanto, a luta indígena é uma luta pela Natureza. Raquel reconhece: “hoje, com grandes áreas desmatadas de floresta na Amazônia, vivemos aumento da temperatura, vivenciamos degelo, vivenciamos extinção em massa de espécies. Então a nossa espiritualidade é muito fundada nessa relação com a Natureza, com os seres da Natureza. A gente cuida da floresta porque a gente também tem respeito por ela”. Por Júlia Boardman

Povos Sagrados, Terra Sagrada: campanha por justiça climática mobiliza comunidades de fé em 43 países | ISER

É hoje! Com mais de 400 ações em 43 países, a campanha Povos Sagrados, Terra Sagrada (Sacred People, Sacred Earth) mobiliza comunidades de fé em prol da justiça climática no planeta. O ISER, por meio do projeto Fé no Clima, é uma das instituições organizadoras e responsável pela articulação com diferentes comunidades no Brasil.

Confira nossa mensagem neste 11 de março, data da mobilização global:

Em 2020, o GreenFaith International, rede multi-religiosa da qual o ISER faz parte, lançou a declaração Sacred People, Sacred Earth (Povos Sagrados, Terra Sagrada), em diferentes regiões do planeta. O manifesto marcou o início das mobilizações para este dia inter-religioso mundial pela ação climática.

Ao longo do dia, você e sua comunidade ainda podem participar. Divulgue sua ação nas redes sociais com as hashtags #SacredPeopleSacredEarth e #Faiths4Climate e junte-se a uma comunidade global, preocupada com o futuro da Terra.

Assine o manifesto

Foto: ARRCC

Os primeiros atos foram realizados na Austrália, país que programou 120 ações para a campanha. Entre as demandas endereçadas ao primeiro-ministro do país, Scott Morrison, está a redução a zero das emissões de gases do efeito estufa até 2030.

Povos Sagrados, Terra Sagrada: participe da mobilização global pela justiça climática! ISER

Pessoas e comunidades de fé ao redor do mundo se preparam para realizar, no dia 11 de março, um esforço coletivo para chamar atenção para demandas urgentes relacionadas à justiça climática.

Em 2020, o GreenFaith International, rede multi-religiosa global da qual o ISER faz parte, lançou a declaração Sacred People, Sacred Earth (Povos Sagrados, Terra Sagrada), em diferentes regiões do planeta. O manifesto marcou o início das mobilizações para o dia inter-religioso mundial pela ação climática, na próxima semana.

O que é

Partindo do princípio de que a Terra e todos os seres são sagrados e estão em risco, o GreenFaith vem construindo esse movimento ambiental e climático, em parceria com comunidades de fé de todo o mundo.

Pessoas de fé representam mais de 80% da população mundial. E apesar de as religiões ensinarem a cuidar da Terra e uns dos outros, o mundo está profundamente desequilibrado. Os mais vulneráveis entre nós estão sofrendo, enquanto governos ineficientes ou autoritários, indústrias poluentes e extrativistas e forças culturais e religiosas extremistas colocam nosso planeta em grande risco.

As dez demandas do Sacred People, Sacred Earth

“Estamos construindo um movimento global com várias religiões para enfrentar a crise climática. Sabemos que não é possível esperar que governos e instituições financeiras ajam primeiro e, por isso, temos mobilizado as comunidades de fé a se engajarem nessa missão, alertando as autoridades de cada país para se comprometerem com a justiça climática, por meio das seguintes demandas:
1. Energia 100% renovável para todos
2. Finanças alinhadas a valores de compaixão
3. Trabalho e assistência médica para todos
4. Respeito aos direitos das populações indígenas
5. Acolhimento a refugiados do clima
6. Zero emissões de gases de efeito estufa até 2030
7. Acabar com a profanação do planeta
8. Eliminação da imoralidade no sistema financeiro
9. Contribuições justas pelos países ricos
10. Liderança audaciosa das comunidades de fé”

Assine aqui o manifesto e some sua voz à mobilização global!

Como você e sua comunidade podem participar?

1) Promova uma atividade no dia 11/03, juntando-se, assim, ao calendário de mobilização global. Pode ser uma cerimônia no rito de sua comunidade religiosa, como uma fala ou pregação, um ato silencioso, o som de um sino, chocalho ou tambor, uma prece durante a cerimônia, um informe sobre a emergência climática, uma mobilização virtual, enfim, qualquer atividade que destaque algum dos eixos do manifesto.
2) Compartilhe a ação de sua comunidade religiosa nas redes sociais com imagens, afirmando desafios e compromissos ou cobrando ações do poder público, usando as hashtags #SacredPeopleSacredEarth e #Faiths4Climate

Sacred People, Sacred Earth
Povos Sagrados, Terra Sagrada

Mobilização Global: 11 de março de 2021

Participe!

Organização:

Australian Religious Response to Climate Change
Instituto de Estudos da Religião (ISER – Brasil)
Faith & the Common Good (Canadá)
Alianza Interreligiosa y Espiritual por el Clima (Chile)
GreenFaith India
GreenFaith Indonesia
GreenFaith Kenya
GreenFaith Nigeria, conduzido pelo Nigerian Conservation Foundation
Southern African Faith Communities Environment Institute
Inter-Religious Council of Uganda
Faith for the Climate Network (Reino Unido)
GreenFaith (EUA e coordenação global)
GreenFaith Zambia
GreenFaith Zimbabwe
Fotos: GreenFaith International

ISER marca presença no lançamento da aliança pela ação climática – ACA BRASIL

No dia 28/01 ocorreu o lançamento da Aliança pela Ação Climática (ACA Brasil), uma coalizão de organizações, governos subnacionais, instituições da sociedade civil e empresas, que tem por missão mobilizar lideranças de diferentes setores em prol do clima. Com seções nacionais em países da América do Norte e do Sul, África e Ásia, a Aliança tem por objetivo contribuir para que os países consigam cumprir os compromissos firmados no Acordo de Paris.

O evento, realizado de forma virtual, contou com a participação de figuras importantes da agenda do Clima, como Daniela Lerário, Líder Brasil da equipe de Campeões do Clima da COP26, Gonzalo Muñoz, campeão de Alto Nível da COP25; e Suzana Kahn, diretora-adjunta da Coppe-UFRJ.

Segundo Daniela Lerário, “é a hora de nos unirmos pelo protagonismo brasileiro na ação climática”. Para Gonzalo Muñoz, “além do cumprimento do acordo de Paris, precisamos aumentar a ambição climática. E para isso precisamos seguir a indicação da ciência”.

Hoje nós temos que entender que já não é resolver somente, temos que prevenir e atuar antecipadamente. Atuar depois é sempre mais caro, mais doloroso e pior”, afirmou o campeão de alto nível.

“O Brasil tem todas as condições para liderar um novo tipo de economia e um novo tipo de desenvolvimento”, defendeu Suzana Kahn.

Também estavam presentes representantes de governos estaduais e municipais, como Edvaldo Nogueira, Prefeito de Aracaju (SE), uma das cidades signatárias da ACA Brasil, e do setor empresarial, na figura de Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil.

“Não deve haver economia ou sustentabilidade. Não tem uma coisa e outra. Tem que haver as duas”, declarou a empresária.

Representando a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, o Pastor Ariovaldo Ramos, também membro do Conselho do Fé no Clima, ressaltou a importância de os líderes religiosos estarem envolvidos nesse debate. “É papel do religioso e da religiosa fomentar a luta pelo meio ambiente e pela preservação da vida como fonte de adoração ao Deus que se propõe adorar, seja quem for e qual for a crença. Salvar o planeta é um ato de fé”, afirmou o pastor.

O ISER, representado pelo Fé no Clima, é uma das instituições que compõem o conselho consultivo da ACA Brasil.

Em vídeo gravado para o Fé no Clima, Karenna Gore comenta a aproximação entre fé e crise climática no governo Joe Biden | ISER

A fundadora e diretora do Centro para a Ética da Terra no Seminário Teológico da União, em Nova Iorque, Karenna Gore, acredita que a aproximação entre os temas “religião” e “crise climática” será um aspecto importante das políticas de Joe Biden, presidente eleito dos EUA. A posse de Biden e da vice Kamala Harris nesta quarta-feira, 20 de janeiro, é considerada um dia histórico para a agenda climática.

Em depoimento gravado especialmente para o IV Encontro Fé no Clima, no final do ano passado, ela afirma que, durante as eleições, Biden “deixou claro que o clima é uma prioridade” e destacou a importância da nomeação do ex-secretário de Estado, John Kerry, para o papel de representante especial sobre Mudança Climática do novo governo. A mensagem aos participantes do evento agora está disponível no canal de YouTube do Fé no Clima.

“O presidente Joe Biden vai confiar em Deus e também vai confiar na ciência para guiar nosso trabalho na Terra para proteger a criação de Deus”, disse Kerry em novembro passado, no evento que anunciou parte do novo gabinete presidencial.

Na avaliação de Karenna Gore, a fala do novo representante para o clima “sinaliza e dá a entender que envolver a religião vai ser crucial para a abordagem que a administração de Biden tomará na ação climática”.

Segundo ela, o trabalho no centro que dirige é focado em buscar soluções para a crise ecológica da fé e das tradições de povos indígenas. “Trabalhamos por meio da educação, convocação, discurso público e construção de movimento”, explicou. Recentemente, o Fé no Clima, projeto do Iser, iniciou diálogo para aprofundar as relações com o Centro para a Ética da Terra.

Sobre a vinculação entre crenças e as discussões sobre meio ambiente, a ativista afirma que “a religião pode criar uma sensação de pertencimento que vai além de alinhamento político ou partidário e nos guiar para sermos a melhor versão de nós mesmos”.

E destacou a importância da religião nas transformações sociais. “O arcebispo Desmond Tutu disse que o ensino das escrituras teve uma participação no fim do apartheid na África do Sul”, destacou, lebrando também a influência de Martin Luther King Jr, pastor da Igreja Batista, na luta pelos direitos civis em seu país.

EUA voltam ao Acordo de Paris

“Também estou bastante emocionada de estar falando com vocês neste momento em que meu país, os Estados Unidos, anunciou que voltaremos a participar do Acordo de Paris, um tratado muito importante de 2015 em que todos os países do mundo se uniram para criar um plano para realmente enfrentar essa grave crise existencial e superá-la”, afirmou a diretora.

Biden assumiu o compromisso de regressar ao acordo de mudança climática de Paris no primeiro dia de governo. A medida integra um pacote de ações que irão reverter, no dia da posse, diversas medidas do governo Trump para esse e outros temas.

Leia a íntegra do discurso

No vídeo gravado para os participantes do evento, Karenna Gore também faz uma homenagem ao ambientalista Alfredo Sirkis, falecido no ano passado. Além de amigo da família Gore, Sirkis era diretor do Centro Brasil no Clima, parceiro brasileiro da Climate Reality Project, organização criada pelo ex vice-presidente dos EUA, Al Gore.