A fundadora e diretora do Centro para a Ética da Terra no Seminário Teológico da União, em Nova Iorque, Karenna Gore, acredita que a aproximação entre os temas “religião” e “crise climática” será um aspecto importante das políticas de Joe Biden, presidente eleito dos EUA. A posse de Biden e da vice Kamala Harris nesta quarta-feira, 20 de janeiro, é considerada um dia histórico para a agenda climática.
Em depoimento gravado especialmente para o IV Encontro Fé no Clima, no final do ano passado, ela afirma que, durante as eleições, Biden “deixou claro que o clima é uma prioridade” e destacou a importância da nomeação do ex-secretário de Estado, John Kerry, para o papel de representante especial sobre Mudança Climática do novo governo. A mensagem aos participantes do evento agora está disponível no canal de YouTube do Fé no Clima.
“O presidente Joe Biden vai confiar em Deus e também vai confiar na ciência para guiar nosso trabalho na Terra para proteger a criação de Deus”, disse Kerry em novembro passado, no evento que anunciou parte do novo gabinete presidencial.
Na avaliação de Karenna Gore, a fala do novo representante para o clima “sinaliza e dá a entender que envolver a religião vai ser crucial para a abordagem que a administração de Biden tomará na ação climática”.
Segundo ela, o trabalho no centro que dirige é focado em buscar soluções para a crise ecológica da fé e das tradições de povos indígenas. “Trabalhamos por meio da educação, convocação, discurso público e construção de movimento”, explicou. Recentemente, o Fé no Clima, projeto do Iser, iniciou diálogo para aprofundar as relações com o Centro para a Ética da Terra.
Sobre a vinculação entre crenças e as discussões sobre meio ambiente, a ativista afirma que “a religião pode criar uma sensação de pertencimento que vai além de alinhamento político ou partidário e nos guiar para sermos a melhor versão de nós mesmos”.
E destacou a importância da religião nas transformações sociais. “O arcebispo Desmond Tutu disse que o ensino das escrituras teve uma participação no fim do apartheid na África do Sul”, destacou, lebrando também a influência de Martin Luther King Jr, pastor da Igreja Batista, na luta pelos direitos civis em seu país.
EUA voltam ao Acordo de Paris
“Também estou bastante emocionada de estar falando com vocês neste momento em que meu país, os Estados Unidos, anunciou que voltaremos a participar do Acordo de Paris, um tratado muito importante de 2015 em que todos os países do mundo se uniram para criar um plano para realmente enfrentar essa grave crise existencial e superá-la”, afirmou a diretora.
Biden assumiu o compromisso de regressar ao acordo de mudança climática de Paris no primeiro dia de governo. A medida integra um pacote de ações que irão reverter, no dia da posse, diversas medidas do governo Trump para esse e outros temas.
No vídeo gravado para os participantes do evento, Karenna Gore também faz uma homenagem ao ambientalista Alfredo Sirkis, falecido no ano passado. Além de amigo da família Gore, Sirkis era diretor do Centro Brasil no Clima, parceiro brasileiro da Climate Reality Project, organização criada pelo ex vice-presidente dos EUA, Al Gore.