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Vigílias Pela Terra: mobilização nacional reúne lideranças religiosas em favor da justiça climática

O movimento é uma iniciativa do Instituto de Estudos da Religião (ISER)


Cerca de 250 pessoas entre lideranças religiosas, movimentos sociais, coletivos e comunidades de fé se reuniram para a abertura do movimento Vigílias Pela Terra, na Orla do Guaíba, em Porto Alegre, no último sábado (17/05). O encontro promoveu intervenções artísticas por meio do diálogo inter-religioso e teve como objetivo viabilizar articulações a partir de grupos religiosos para fortalecer ações no enfrentamento à crise climática. O movimento também realizou um memorial às vítimas da enchente no Rio Grande do Sul, ocorrida em maio de 2024. Ao longo do ano, as Vigílias Pela Terra vão acontecer nas cinco regiões do Brasil, em diferentes cidades, sendo Rio de Janeiro, Manaus, Recife e Natal, terminando com uma vigília de múltiplas tradições espirituais e sociais durante a COP 30, em Belém, que será no âmbito do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso COP 30. A mobilização é uma iniciativa do Fé no Clima, do Instituto de Estudos da Religião (ISER). 

Durante o ato em Porto Alegre, diversas lideranças religiosas estiveram presentes. Dentre elas, algumas fizeram discursos e intervenções artísticas em defesa da Terra, como a Cacica Iracema, indígena da Retomada Gãh Ré, o Pai Dejair de Ogum,  Bianca Pedemonte, representante da Fé Bahai, Tiago Santos, do Coletivo Abrigo, a Monja Kokai Eckert, do Zen Budismo, a Irmã Claudete Rissini, católica da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo (Scalabrinianas), o Pastor Olmiro Ribeiro Júnior, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana e o Lama Padma Samten, da Comunidade Budista Tibetana. Além da participação de movimentos de catadoras e grupos socioambientais. No final da tarde, na orla do Guaíba, próxima a Usina do Gasômeto e ao monumento em homenagem aos voluntários que atuaram na enchente, manifestantes entoaram o mantra: “Tudo está interligado como se fossemos um”.

O articulador do ISER Paulo Sampaio enfatiza a importância de iniciar as Vigílias Pela Terra em Porto Alegre, um ano após a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, que deixou cerca de 79 mil pessoas desabrigadas. “Juntamos nossas vozes desde o Bioma Pampa, que se conecta com a Mata Atlântica e o sistema costeiro-marinho, em memória às vítimas das enchentes de maio de 2024. Situação que ainda não foi superada completamente, pois muita gente segue em abrigos na espera de política pública que atenda suas demandas por direitos. Este espaço também é um grito por justiça, não enfrentamos todos a mesma crise. Sentimos os impactos da crise climática de forma diversa. O racismo que provoca a intolerância, invasão e violação de terreiros é o mesmo que faz com que populações pretas e periféricas e as comunidades tradicionais sejam as mais afetadas pelos eventos climáticos”, pondera.

A ação foi co-organizada em parceria com o Fórum Inter-religioso e Ecumênico do Rio Grande do Sul (FIRE), a Fundação Luterana de Diaconia, o Coletivo Abrigo, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), o Zen Budismo do Vale dos Sinos, o Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), a Visão Mundial, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, o Conselho Estadual do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul, o Youth Action Hub, o Global Shapers POA, Instituto Zen Maitreya-Zendo Diamante, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), Youth Action Hub da ONU, Curicaca, Nación Pachamama, Pastoral da Juventude Estudantil, Programa de Gênero e Religião da Faculdade EST, Comitê de Povos e Comunidades Tradicionais dos Pampas, dentre outras entidades e personalidades. 

Em junho de 1992, o ISER realizou a Vigília Inter-religiosa ‘Um Novo Dia para a Terra’, em defesa do meio ambiente. O encontro aconteceu no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, no contexto da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92). Durante 12 horas, cerca de 30 mil pessoas e 300 lideranças religiosas se reuniram e realizaram celebrações de 25 tradições religiosas e espirituais diferentes. A mobilização deu origem ao Movimento Inter-Religioso (MIR-RJ) e resultou no documentário ‘Uma Noite Pela Terra’, dirigido por João Moreira Salles, disponível no canal do Youtube do ISER. 

A celebração foi encerrada com uma meditação conduzida pelo Lama Samten, recitando o mantra de Tara. Ao comentar sobre os mais de 30 anos que separam os dois eventos sobre o clima realizado no país, Samten afirma que de lá para cá, muitas palavras foram derramadas mas quase pouco foi feito efetivamente. “A novidade que a gente teve de lá para cá é que nós estamos nos conscientizando que as palavras não são suficientes. Porque nós entendemos todas as coisas, mas a humanidade segue impulsionada de um modo destrutivo. A vigília é quando a gente abre o coração, pede que as coisas milagrosamente aconteçam. A racionalidade, ela já produziu todas as palavras, nós precisamos agora das transformações”, ressaltou.

O diretor adjunto do ISER, Clemir Fernandes, entende ser fundamental que as religiões façam parte do enfrentamento à crise climática a partir de suas próprias práticas de fé. “Em 1992 a vigília foi um diferencial político e espiritual na luta ambiental. Mais de três décadas depois, as religiões e tradições espirituais podem aportar um despertamento ético fundamental para que tomadores de decisão sejam ousados e eficazes no cumprimento de metas para interromper a curva ascendente da grave crise climática atual”, reforça.

Para a Coordenadora de Meio Ambiente e Religião do ISER Isabel Pereira, a COP 30 vem sendo considerada um marco mundial fundamental para o enfrentamento da crescente crise climática. “Apesar das limitações dos avanços por meio das negociações durante a conferência, temos a oportunidade de fazer o tema chegar a mais pessoas. A população precisa estar convencida da necessidade de enfrentar esta crise e do potencial transformador que sua mobilização pode causar neste cenário, especialmente considerando seus territórios e agendas locais”, pondera. 

Em 2025, a 30ª edição da COP do Clima será realizada pela primeira vez no Brasil, em Belém do Pará, na Amazônia brasileira. A conferência reunirá líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir ações que combatam as mudanças climáticas, proponham políticas públicas de justiça climática, apresentem inovações tecnológicas e de financiamento para adaptação e mitigação dessa crise e mais.

ISER lança movimento Vigílias Pela Terra rumo à COP 30

Mobilização reúne diferentes lideranças religiosas para diálogo inter-religioso que fortaleçam a justiça climática


O Instituto de Estudos da Religião (ISER) dá início ao movimento Vigílias Pela Terra rumo à COP 30, em Porto Alegre. A mobilização reunirá diversas lideranças religiosas, movimentos sociais, coletivos, pessoas e comunidades de fé, em diferentes regiões pelo Brasil ao longo do ano para celebrações inter-religiosas em defesa da Terra. O objetivo do encontro é promover articulação a partir de grupos religiosos diversos para fortalecer ações no enfrentamento à crise climática. A culminância desse percurso será uma vigília de múltiplas tradições espirituais e sociais durante a COP 30, em Belém, que ocorrerá no âmbito do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso COP 30. A primeira Vigília Pela Terra será em Porto Alegre, na Orla do Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro, no dia 17 de maio, a partir das 15h.

Durante a Vigília, terá a participação de lideranças religiosas de diferentes crenças, intervenções artísticas, homenagem às vítimas da enchente no Rio Grande do Sul e meditação no pôr do sol. A atividade está sendo co-organizada em parceria com o Fórum Inter-religioso e Ecumênico do Rio Grande do Sul (FIRE), a Fundação Luterana de Diaconia, o Coletivo Abrigo, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), o Zen Budismo do Vale dos Sinos, o Centro de Estudos Budistas Bodisatva ( CEBB), a Visão Mundial, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, o Conselho Estadual do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul, o Youth Action Hub, o Global Shapers POA, o Comitê de Povos e Comunidades Tradicionais dos Pampas, dentre outras entidades. 

Em junho de 1992, o ISER realizou a Vigília Inter-religiosa ‘Um Novo Dia para a Terra’, em defesa do meio ambiente. O encontro aconteceu no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, no contexto da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92). Durante 12 horas, cerca de 30 mil pessoas e 300 lideranças religiosas se reuniram e realizaram celebrações de 25 tradições religiosas e espirituais diferentes. A mobilização deu origem ao Movimento Inter-Religioso (MIR-RJ) e resultou no documentário ‘Uma Noite Pela Terra’, dirigido por João Moreira Salles, disponível no canal do Youtube do ISER. 

O diretor adjunto do ISER, Clemir Fernandes, entende ser fundamental que as religiões façam parte do enfrentamento à crise climática a partir de suas próprias práticas de fé. “Em 1992 a vigília foi um diferencial político e espiritual na luta ambiental. Mais de três décadas depois, as religiões e tradições espirituais podem aportar um despertamento ético fundamental para que tomadores de decisão sejam ousados e eficazes no cumprimento de metas para interromper a curva ascendente da grave crise climática atual”, reforça.

A atividade de Porto Alegre tem o apoio de Dalai Lama, que enviou uma carta de incentivo à comunidade. “Sei que o Brasil tem um forte senso de proteção ambiental, e a enchente do ano passado é mais um lembrete para todos nós trabalharmos juntos para tornar o Brasil e o mundo um lugar melhor, agora e no futuro”, escreveu. 

No dia 08 de abril, o ISER realizou a primeira atividade pública do ano rumo à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 30), na Marcha de Abertura do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília. O momento simbolizou o lançamento das Vigílias Pela Terra, reforçando o apoio à luta dos direitos dos povos indígenas. O encontro reuniu as lideranças religiosas Mãe Dora de Oyá, Yalorisá do Ilê Axé T’ojú Labá e Fundadora do Afoxé Ogum, a Pastora Romi Bencke, Secretária-Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil e o Padre Marcus Barbosa, Assessor da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Para a Coordenadora de Meio Ambiente e Religião do ISER Isabel Pereira, a COP 30 vem sendo considerada um marco mundial fundamental para o enfrentamento da crescente crise climática. “Apesar das limitações dos avanços por meio das negociações durante a conferência, temos a oportunidade de fazer o tema chegar a mais pessoas. A população precisa estar convencida da necessidade de enfrentar esta crise e do potencial transformador que sua mobilização pode causar neste cenário, especialmente considerando seus territórios e agendas locais”, pondera. 

Em 2025, a 30ª edição da COP do Clima será realizada pela primeira vez no Brasil, em Belém do Pará, na Amazônia brasileira. A conferência reunirá líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir ações que combatam as mudanças climáticas, proponham políticas públicas de justiça climática, apresentem inovações tecnológicas e de financiamento para adaptação e mitigação dessa crise e mais.

Iniciando a Vigília Pela Terra na região Sul do país, a mobilização se reúne com olhar desde o Bioma Pampa até a Amazônia. Dialogando com os povos, comunidades e lideranças tradicionais, suas contribuições e demandas, o movimento em Porto Alegre ocorre no marco de um ano das tragédias que afetaram o Rio Grande do Sul, pretendendo ser também um grande memorial às vítimas e celebração de todo o trabalho de solidariedade e voluntariado.

 

SERVIÇO

Vigílias Pela Terra
Data: 17 de maio
Local: Orla do Guaíba – Porto Alegre (RS)
Horário: Das 15h às 19h

 

RESULTADO: Formação Boto Fé nas Águas 2025

Alessy Padilha Everton

Amanda Ionara Farias de Oliveira

Ana Caroline de Lima Sousa

Ana Laura Silva Vilela 

André Castro

Andréia Santos de Lima 

Ariely Paola dos Santos

Artur Basilio de Freitas

Bárbara Marthelly Corrêa Figueira Nascimento 

Brenda Samara Barros Pereira 

Camilly Goes Cardoso

Caroline Camargo Barbosa

Charlie Gomes da Silva 

Christine Késia dos Santos Timóteo 

Dione Stefanny Galvão do Nascimento 

Eduardo Augusto Martins de Melo 

Fabricio Malheiro Fernandes Nascimento 

Fernanda Tenório Nascimento Alencar

Fernanda Vanessa Leite do Nascimento

Franscielly Maria Da Luz

Gabriela Lincoln Boaventura

Gilmar de Oliveira Machado 

Glaucia Santos de souza

Ilma vale marcineiro 

Isla Gabrielly Santos Cerqueira

Itajone Francisco de Morais 

Jaciane Gentil Cabral 

Jederson de Pontes Bezerra

Jerônimo Pereira dos Santos 

José Ilton Galdino Júnior 

José Wilson da Silva Júnior 

Juliana Mondinne Mendes de Oliveira 

Juliana Pinho

Karen Cristina Sidonio Melo 

Karla Michele Santos de Melo 

Kaua da Cruz Santos 

Laura Sheine Rubim de Souza – Iya Kokama

Leonan Coelho da Costa 

Letícia Colares Casales Ventin (Letricia)

Letícia de Souza Amorim 

Liege da Costa Ferreira 

Lina Mayara Pereira Bastos 

Lirian Oliveira 

Lívia Maria Vitor da Silva Sousa 

Lucas Feitosa Marcineiro 

Lucas Rodrigues Napo 

Luciana Carneiro Lopes da Silva 

Luciana Ruth de Lima 

Ludmylla oliveira 

Marcelli Alexandrino de Barros Machado

Marcos Paulo Gonçalves Cassiano da Cunha

Maria Fernanda Souza Da Silva 

Maria Manuela Pinheiro Frazao Liica 

Matheus Moreira Soares

Mayara Alves Barbosa 

Nalbert Alberto Barreto 

Ondino pereira Cintra filho 

Paula Landim Nazaré

Rafaela Pinheiro Frazão Licá 

Raphaella Belfort Muger Teixeira

Rayane Marinho Leal 

Tamiris Queiroz da Conceição 

Thais da Silva Matos

Thaysi da Silva 

Valdinei Barbosa Pereira 

Wecsley Phelipe de Souza Britto

RESULTADO: Edição Boto Fé no Clima 2025

A-yá Jacyene Marulanda de Souza
Ageu Rabelo Bastos
Alice Santos do Nascimento
Amanda Neder
Ana Cássia Brandão
Aretha Rayra Teixeira Ferreira
Artur Silva dos Santos
Bruna Pires dos Santos
Carolina Rodrigues Reis da Silva
Caroline Alves da Silva
Clara Thayse de Oliveira Cosme (Thayse Panda)
Cleverson silva da Silva
Dandara Vitória Santos Ferreira
Douglas Dennys de Paula
Edson Rodrigues Cavalcante
Eduarda Gotz
Elinoelma Barros
Enock de Castro Galdino
Gabriel Peres Veiga da Silva
Gilmar de Oliveira Machado
Gustavo Maria Lopes Gonçalves
Ian Bomfim Pinheiro
Isabela Cristina Rosa
Isabella Ribeiro Barbosa
Isadora Gran
João Miguel Marques Tavares
José Augusto Alves Neto
Joyce Santos de Oliveira
Júlia Maria Silva de Oliveira
Kaiaia Suya
Kesya de Lima Silva Alves
Lennon Anfrisio Santos Romão
Lívia de Carvalho Lages Silva
Lohany Aparecida Dias Monteiro
Luana Abílio
Luiz Felipe Mar dos Santos
Luiz Henrique Lopes de Oliveira
Marcelo Anjos da Silva
Marina Murta
Marinaldo Almeida Costa
Matheus Francisco Pereira
Matheus Henrique P. Siqueira
Michele Boldrini
Milene Almeida de Souza
Mirim Ju Yan Guarani
Nayane Cristina Ramos de Oliveira Lobo
Nayara Matos Nunes
Nilmara Sampaio da Silva
Paula Israel Evangelista Vida
Quésia Oliveira Olanda
Samily Barbosa
Sofia Iothi
Stefan Costa
Suellen de Oliveira Guimarães
Taíza Rayane De Araujo
Thainá Rosa Oliveira da Cunha
Thaíssa Alves Gonçalves Silva
Thiago Arthur Martins Felisbino de Jesus
Tuane Alves da Silva
Vitor Martins de Oliveira Mattos
Vitória Rebeca Rodrigues da Silva

 

COP 30 no Brasil: um novo capítulo na agenda climática global

A diplomacia brasileira pode atuar para que a ausência dos EUA não seja um retrocesso? | Entrevista com Diosmar Filho



Em janeiro de 2025, assim que tomou posse, o presidente dos EUA Donald Trump, assinou um decreto retirando o país do Acordo Climático de Paris. Apesar de já ter retirado os EUA do compromisso internacional em seu primeiro mandato, a decisão causou grandes debates acerca da temática sobre negociações e mudanças climáticas.

Os EUA têm historicamente resistido a avanços na agenda de adaptação climática, o que pode impactar negativamente os esforços globais para proteger as populações mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Diante desse cenário, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em novembro, pela primeira vez no Brasil, surge como uma oportunidade crucial para avançar na agenda de adaptação climática e engajar economias emergentes e países em desenvolvimento.

O geógrafo e pesquisador sênior da Associação de Pesquisa Iyaleta Diosmar Filho, traz uma análise sobre a retirada dos EUA do Acordo de Paris no ano da COP 30 para além das reações alarmistas. “Temos uma agenda super sensível para a COP 30 no Brasil, chama-se artigo 7: adaptação climática. Se a gente conseguir colocar as economias emergentes e os países em desenvolvimento nessa agenda para aprovar os objetivos global e ampliar o financiamento nessa agenda, a COP 30 no Brasil cumpre seu papel com muita força”, explica. 

O pesquisador também aponta o potencial da diplomacia brasileira na condução das negociações e na busca por soluções que garantam um futuro sustentável para todos. “Eu acredito muito na diplomacia brasileira. Eu acho que é uma das melhores diplomacias no mundo e na negociação climática. Acredito que o Brasil está muito preparado para esse ciclo com o Donald Trump”, afirma Diosmar que acredita que a diplomacia é vista como competente e capaz de lidar com a ausência dos EUA no Acordo de Paris durante a COP. 

A agenda climática global tem priorizado a mitigação das emissões em detrimento da adaptação aos impactos das mudanças climáticas e do apoio às populações vulneráveis. Historicamente os EUA não apoiaram a agenda de adaptação. “A agenda climática em si, até este ano, girou em torno da mitigação e em torno da economia, ela não girou em torno de cuidar da população vulnerável no mundo à mudanças climáticas”, pondera o geógrafo. 

Mesmo sem a participação do governo americano, a COP 30 no Brasil surge como um momento estratégico para avançar na agenda de adaptação e engajar diversos setores como a sociedade estadunidense, os governos locais e outros atores buscando o financiamento necessário para os países mais vulneráveis a fim de garantir um futuro sustentável.

EUA se retira do Acordo de Paris… pela segunda vez

Como esperado após os resultados das eleições presidenciais dos EUA no ano passado, o segundo governo de Donald Trump começou trazendo apreensão em diversos setores. O polêmico discurso de posse trouxe a promessa de uma entrada dos Estados Unidos numa nova “era de ouro”, regada, é claro, à bastante exploração de combustíveis fósseis e com o anúncio do encerramento imediato de políticas de promoção de equidade baseadas em raça e gênero. Logo em seu primeiro dia de mandato, Trump formalizou a retirada dos EUA do Acordo de Paris, feito já realizado pelo mesmo em seu mandato anterior (2017 – 2020) e que havia sido revertido por Biden (2021 – 2024) . 

Mas o que é o acordo de Paris?

Assinado em 2015, durante a 21° Conferência das Partes sobre o Clima, o Acordo de Paris é um tratado internacional que tem como seu principal objetivo limitar a elevação da temperatura média global da Terra abaixo de 2°C, idealmente em 1,5°C. Ele é tido como um grande marco das negociações climáticas internacionais, pois conseguiu que todos os países o ratificassem com exceção de Síria e Nicarágua, esse último país aderiu posteriormente ao acordo. Além de estabelecer que cada país apresente suas NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas) que, na prática, são as metas para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Possíveis desdobramentos

Apesar dos estadunidenses terem um conhecido histórico de provocarem “entraves” nas negociações climáticas e, sob o comando de Trump, é bastante provável que isso seja cada vez mais comum, portanto, esperado. A saída de qualquer uma das partes que tenha ratificado o Acordo de Paris é sempre um prejuízo. O que ganha um contorno ainda mais expressivo se tratando dos Estados Unidos, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo. Apesar de ainda ser cedo para dimensionar o impacto desta decisão na comunidade internacional, há temores de que a decisão americana encoraje outros países a fazerem o mesmo. O que seria, sem dúvida, uma grande tragédia e o fim de qualquer esperança de limitar o aquecimento global.

O que está em jogo?

Em pleno 2025, tendo sido as últimas décadas marcadas por incontáveis desastres ambientais e com tantos outros em curso, como, por exemplo,  os incêndios florestais que o próprio Estados Unidos enfrenta, é execrável que o chefe de uma nação adote uma medida desta natureza. Não só Trump, mas todos os líderes mundiais que insistem em ignorar o ignorável estão marchando não só com o seu povo, mas com o planeta inteiro para um grande abismo climático. A pergunta mais importante a se fazer neste momento é como a comunidade internacional reage a isso, pois Trump não é o primeiro, e infelizmente, não será o último negacionista climático com o poder nas mãos. 

 

Por: Sharah Luciano
Coordenadora de Formações Fé no Clima

Confira as pessoas selecionadas para a segunda edição do Boto Fé no Clima

Ádria Anacleto Pereira Mendes
Ailton Seabra Borges
Alencar Silveira de Anchieta Guimarães Braga
Alex Rodrigo Farias Soares
Allan dos Santos Vieira
Amanda Alves Queiroga
Ana Caroline Quirino da Silva
Ana Keity da Silva
Ana Luiza de Lima Silva
Anderson Francklin Pinto de Jesus
Anderson Gabriel Ribeiro Lima
Anne Karolyne da Silva Rodrigues Carneiro
Arthur Vinicius Nascimento Viana
Beatriz Triani Cherem
Bruna Maria Crispim
Bruna Paola Castro Lima
Camila Nascimento
Camilly Goes Cardoso
Charlie Gomes da Silva
Cinthia Nascimento
Cintia Souto Reis
Cosmerina dos santos Brito
Davi Andrade Miguel
Derson Maia
Edna Carolina dos Anjos
Edson Rodrigues Cavalcante
Emerson Caetano
Felipe Gomes Garcia Marques
Fernanda Vanessa Leite do Nascimento
Fetxawewe Tapuya Guajajara Veríssimo
Gabrielle Ücker Thum
Hamangai Marcos Melo Pataxó
Holehon Santos Campos
Jerônimo pereira dos santos
Juliana da Silva Marins
Karen Cristina Sidonio Melo
Karen Emanuelen dos Santos Martins Galembeck
Karol’Linne Carvalho
Kely Cristina da Silva
Késia Miranda Nogueira
Lana Larrá Baia Amorim
Larissa Cristina Souza Barros
Letícia Damacena de Melo
Lívia Maria Vitor da Silva Sousa
Lucas da silva Alves pessoa
Luciana Carneiro Lopes da Silva
Madahyta de Nazaré dos Santos Silva
Maria Clara Salvador Vieira da Silva
Maria Rosangela da Silva Souza
Mariana Bissolate Knupp
Mateus Vinícius Batista Torres da Silva
Maycon Carreira
Mirella Moura Bastos
Muri Souza Santiago
Pamella Cristiny Carneiro da Silva
Raniere da Conceição Roseira
Raquel Piedade
Rocheli Koralewski
Romulo Moraes de Souza
Sereia Caranguejo
Shayane Fernandes Oliveira
Sueli de Araújo Azevêdo
Thais de Oliveira
Thaís Viana
Thamires Lima
Thayliana Leite Bezerra
Vanessa da Silva Santos
Wecsley Phelipe de Souza Britto
Wesley Oliveira do Nascimento
Yasmin de Oliveira Barcelos

Uma Amazônia preta, quilombola e plural

Talvez a primeira imagem que vem à mente das pessoas quando elas escutam a palavra Amazônia seja floresta. De fato, essa associação não está equivocada, o bioma Amazônico é sim o mais extenso e mais conhecido do Brasil, atravessando 9 estados brasileiros e perpassando outros 5 países da América do Sul. Mas essa extensão não se limita às dimensões territoriais, ela contribui para que existam muitas Amazônias dentro da Amazônia e que pulsam, sobretudo, diversidade. 

E foi uma dessas Amazônias plurais que eu pude conhecer ao participar, representando a Iniciativa Fé no Clima, durante o  “Amazônia Terra Preta – ATP”. O ATP é um evento realizado em Macapá pelo Instituto Mapinguari, organização que tem por objetivo desempenhar as atividades de “Proteção, Pesquisa e Educação Socioambiental”, no âmbito da Amazônia. 

Segundo Yuri Silva, um dos co-fundadores do instituto, o ATP busca promover a integração e a consolidação das lutas raciais atreladas às questões ambientais climáticas”. Durante os dois dias de atividades o que mais reverberou foi a pluralidade da Amazônia. Que é floresta, que é território de muitos povos indígenas, mas que também é urbana, quilombola, preta, congrega muitos movimentos, iniciativas e é também referência no que diz respeito à luta e resistência dos territórios e das pessoas que nela vivem.
Para Hannah Balieiro, co-fundadora e diretora executiva do Instituto Mapinguari, dentro da Amazônia a gente precisa também resgatar essa identidade, memória e construção negra da Amazônia. (…) poder trazer isso dentro de um evento onde a gente traz pesquisadores/as a nível nacional e internacional junto das nossas comunidades de base e da galera que está dentro das associações, ressacas, periferias, baixadas e quilombos, e a gente traz isso de uma maneira muito enriquecedora. Porque está todo mundo conversando, convergindo e pensando soluções. Cada um sozinho, mas quando a gente se junta (a gente vê) que tá todo mundo indo para o mesmo lugar, tentando amenizar questões que a crise climática tem agravado, que são as desigualdades..”.


Justiça Climática e o estado do Amapá 

O painel de abertura da programação, facilitado pela jornalista e especialista em Justiça Climática, Andréia Coutinho, foi justamente sobre racismo ambiental e justiça climática. Temas que são pontos de partida para qualquer debate ou planejamento acerca da emergência climática e que ilustram o panorama do Amapá em relação às demais unidades da federação brasileira. De acordo com os dados da plataforma SEEG referente ao ano de 2021, o Amapá é o estado brasileiro que menos contribui nas emissões totais de gases do Efeito Estufa, ocupando a 27° posição no ranking, ficando atrás, inclusive, do Distrito Federal. Sua capital – Macapá –  conforme os dados disponibilizados pelo IBGE, no ano de 2021, a cidade tinha como população estimada em 522.357 pessoas, que declaram-se majoritariamente como negros e negras.

 

Encontros e experiências potentes 

Uma das apostas do ATP foi trazer para o diálogo a valorização das experiências, culturas, as produções audiovisuais e as lideranças comunitárias. Lideranças como Claudete Santos, professora e ex-diretora da  Escola Quilombola José Bonifácio,  Paulo Cardoso, jovem amapaense, estudante de engenharia florestal e fundador do Coletivo Utopia Negra, entre outros. 

Cada uma dessas lideranças têm sido agentes de mudança em suas comunidades e provado que as soluções para as demandas socioambientais dos seus territórios já têm sido pensadas e realizadas nos próprias comunidades. E que as políticas públicas que precisam urgentemente chegar nesses locais necessitam considerar os saberes e mobilizações já existentes.

Fé no Clima no ATP 

Estar no ATP ,enquanto representante do Fé no Clima, trouxe oportunidade de conhecer pessoas, iniciativas e movimentos que são referências e que por razões estruturais dificilmente conseguem estabelecer conexões com outras organizações e iniciativas de outras regiões do país. 

Aproveitamos o momento para apresentar o Fé no Clima e realizar a distribuição do nosso Guia Fé no Clima – Reflexões sobre Mudanças Climáticas para Comunidades Religiosas, ações fundamentais para o fortalecimento, ampliação, diversificação e regionalização das nossas rede de lideranças religiosas e juventudes Fé no Clima. 

Além disso, um outro destaque dessa participação aconteceu durante a oficina de Agroecologia, realizada na Escola Quilombola da José Bonifácio. Onde  foi realizada a doação de exemplares de cada um dos cadernos do Guia Fé no Clima para a biblioteca da escola e para o professor Moisés, responsável pela disciplina de ensino religioso da instituição. 

 

Sharah Luciano
Pedagoga, pesquisadora, jovem ativista climática nascida no bioma Mata Atlântica e membro da equipe do Fé no Clima. 

As palavras não dão conta – Relatos das andanças II

Era manhã de sexta-feira e já estava na estrada. Indo na cabine da lotação pude admirar a caatinga que brilhava num verde vivo. Sempre me impressiono com a capacidade de resiliência deste bioma. Pode ter o acinzentado que for, basta algumas gotas d’água que tudo logo se esverdeiaia. A Caatinga fala mais de esperança do que imaginamos. Seguia em direção a Tabira, cidade no alto Pajeú, terra de poesia e cantoria.

Em Tabira revi amigas e fui em direção a casa de Dedé Monteiro, motivo de minha ida até a cidade. Dedé em Pernambuco é considerado o Papa da Poesia, tamanha sua importância para a cultura do estado. O que também lhe trouxe uma outra honraria, que talvez mais honre o estado do que a Dedé, o título de Patrimônio Vivo. Chegando em sua casa fui recebido com o que há de melhor para acolher alguém no sertão – rapadura e um copo de água bem gelado.

A conversa logo seguiu. Apresentei o trabalho que temos desenvolvido no Fé no Clima. Partilhei dos projetos que estão sendo realizados, dos encontros que tivemos e da fala inspiradora daquela viagem, a do Prof Fábio Scarano no último encontro nacional do Fé no Clima (realizado em novembro de 2022 na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro/RJ). 

No encontro o professor nos disse que a mudança de fundo a ciência não consegue tocar.  Que é no diálogo entre fé e clima, ciência e arte, ciência e religião que a gente vai conseguir alcançar o nosso objetivo ao tratar da crise climática – sensibilizar, mover as emoções e capacidades afetivas para o cuidado com a vida. Isto tocou o poeta que perguntou mais sobre o professor. Mostrei-lhe a foto tirada no evento do Rio da equipe do Fé no Clima com ele.

O centro da nossa conversa girou em torno do Rio Pajeú. O rio que corta as cidades daquela região, mas também corta a vida da gente, as nossas memórias, os nossos afetos. O rio que inspira tanta poesia. O poeta recordou as lembranças, desde a infância, que tem com o rio. Falou do Poço Escrito. Pedra misteriosa dentro do leito do rio e que desperta a curiosidade dos tabirenses. Até “recitou de có” uns versos seus:

“Quando o Poço Escrito enchia

A gente achava um colosso.

Ia bem cedo pro poço,

Passava o resto do dia.

O que eu não compreendia

Era um letreiro esquisito

Que alguém gravou no granito,

Talvez no tempo do Império,

Originando o mistério

Das pedras do Poço Escrito.”

A conversa que teve de ser encerrada pelo avançado da hora para o meu retorno terminou ao redor da mesa da cozinha – lugar de afeto e intimidade. Pedi ao Papa da poesia, recordando o outro Papa, Francisco, que a natureza e a ecologia possuíssem lugar central. Que inspirasse aos poetas e cantadores a poesia, mas também a ação, o cuidado e a conservação. Ao que ele me confirmou, como n’uma bênção.

Retornei para a casa com a alegria de ter conhecido Dedé. A paisagem que me acompanhou na ida, me animou na volta. O sol caindo sobre a caatinga lhe dava um brilho ainda maior. No coração a certeza de que se ela tanto nos deu, a ela devemos tanto nos dar. A esperança que ela nos inspira seja o combustível que nos alimenta na luta em defesa de sua preservação. 

Viva Dedé Monteiro! Viva o Rio Pajeú! Viva a Caatinga!

Paulo Sampaio, educador popular, ativista ambiental, membro da equipe Fé no Clima.

As palavras não dão conta: relatos das andanças parte I – Paulo Sampaio

Muito tenho aprendido em todos estes dias de missão rodando o país. Em meu coração pulsa forte a certeza de que do povo organizado virá nossa salvação. É da luta e da mobilização popular que a nova terra será construída. É do povo que age pela terra como a voz de Deus do “faça-se luz” que a transformação virá. São estes a fagulha da revolução e a centelha que recriará, e já o está fazendo, a nova humanidade pautada nos valores da cooperação, da preservação, do cuidado, do afeto, da interligação e da interdependência entre as espécies. 

Certa vez um monge amigo e mestre, Marcelo Barros, nos chamou atenção para um texto da tradição cristã, do primeiro testamento, sobre o Profeta Elias. O texto está no primeiro livro de Reis, no capítulo 19, e fala de um punhado de gente que Deus “fez sobrar” e que não se dobraram diante do poder que queria corromper o povo. Esse punhado de gente que Deus fez sobrar lá no tempo do Profeta Elias é hoje este nosso povo organizado nas bases. Um povo que não se dobra ao poder da morte e da ganância que assola a terra e destrói a Criação na busca de uma riqueza ilusória e efêmera. Um povo que se organiza na base e, como pequenas formigas, têm transformado, pouco a pouco, sua realidade. Insistindo e resistindo.

Tenho rodado um pouco nos centros e rincões deste país e encontrado muitos sinais de esperança. Do Maranhão ao Mato Grosso, pessoas de fé têm se voltado a pensar a sua religiosidade e espiritualidade a partir de uma perspectiva de cuidado com a Terra, mãe-irmã. Passando por São Luís (MA), Cáceres, Rondonópolis e Cuiabá (MT) tenho visto e escutado lições preciosas. As palavras não dão conta de descrever a emoção de viver tudo isso, mas consegue, ainda que mínima e infimamente, dar vida a algumas dessas lições.

A primeira já foi dita e repetida, o povo organizado produz a verdadeira transformação, revolução. Depois que é através da formação, uma formação que une teoria e prática, a partir da vida do povo, que o povo começa a ter força e se organizar. Isto porque a formação empodera, dá força, e impele, estimula, instiga, as pessoas à ação. Outro ponto importante é a dimensão festiva e afetiva da luta. A vida não é feita somente de trabalho, trabalho e trabalho. Ela precisa ser vivida plenamente e celebrada, musicada e dançada, sentida e afetada. Precisa de profecia e poesia.

Destaco, por fim, não encerrando totalmente, mas concluindo esta parte (até porque tem muito mais vivido que não cabem nas palavras), o papel das juventudes. As juventudes que tem construído e arquitetado os processos de mudança, as articulações, os trabalhos de base, as rodas de conversa. De fato, o que nos disse em janeiro de 2019 o Papa Francisco vemos pulsante no chão da vida: a juventude é “o agora de Deus”. Ouvir as juventudes, suas demandas, suas ideias, sonhos e esperanças é um bom caminho para continuarmos a missão de guardar e cultivar a Criação de Deus.

Paulo Sampaio, educador popular, ativista ambiental, membro da equipe Fé no Clima.