Muito tenho aprendido em todos estes dias de missão rodando o país. Em meu coração pulsa forte a certeza de que do povo organizado virá nossa salvação. É da luta e da mobilização popular que a nova terra será construída. É do povo que age pela terra como a voz de Deus do “faça-se luz” que a transformação virá. São estes a fagulha da revolução e a centelha que recriará, e já o está fazendo, a nova humanidade pautada nos valores da cooperação, da preservação, do cuidado, do afeto, da interligação e da interdependência entre as espécies.
Certa vez um monge amigo e mestre, Marcelo Barros, nos chamou atenção para um texto da tradição cristã, do primeiro testamento, sobre o Profeta Elias. O texto está no primeiro livro de Reis, no capítulo 19, e fala de um punhado de gente que Deus “fez sobrar” e que não se dobraram diante do poder que queria corromper o povo. Esse punhado de gente que Deus fez sobrar lá no tempo do Profeta Elias é hoje este nosso povo organizado nas bases. Um povo que não se dobra ao poder da morte e da ganância que assola a terra e destrói a Criação na busca de uma riqueza ilusória e efêmera. Um povo que se organiza na base e, como pequenas formigas, têm transformado, pouco a pouco, sua realidade. Insistindo e resistindo.
Tenho rodado um pouco nos centros e rincões deste país e encontrado muitos sinais de esperança. Do Maranhão ao Mato Grosso, pessoas de fé têm se voltado a pensar a sua religiosidade e espiritualidade a partir de uma perspectiva de cuidado com a Terra, mãe-irmã. Passando por São Luís (MA), Cáceres, Rondonópolis e Cuiabá (MT) tenho visto e escutado lições preciosas. As palavras não dão conta de descrever a emoção de viver tudo isso, mas consegue, ainda que mínima e infimamente, dar vida a algumas dessas lições.
A primeira já foi dita e repetida, o povo organizado produz a verdadeira transformação, revolução. Depois que é através da formação, uma formação que une teoria e prática, a partir da vida do povo, que o povo começa a ter força e se organizar. Isto porque a formação empodera, dá força, e impele, estimula, instiga, as pessoas à ação. Outro ponto importante é a dimensão festiva e afetiva da luta. A vida não é feita somente de trabalho, trabalho e trabalho. Ela precisa ser vivida plenamente e celebrada, musicada e dançada, sentida e afetada. Precisa de profecia e poesia.
Destaco, por fim, não encerrando totalmente, mas concluindo esta parte (até porque tem muito mais vivido que não cabem nas palavras), o papel das juventudes. As juventudes que tem construído e arquitetado os processos de mudança, as articulações, os trabalhos de base, as rodas de conversa. De fato, o que nos disse em janeiro de 2019 o Papa Francisco vemos pulsante no chão da vida: a juventude é “o agora de Deus”. Ouvir as juventudes, suas demandas, suas ideias, sonhos e esperanças é um bom caminho para continuarmos a missão de guardar e cultivar a Criação de Deus.
Paulo Sampaio, educador popular, ativista ambiental, membro da equipe Fé no Clima.