O ano de 2023 está sendo marcado por eventos climáticos extremos, com recordes históricos nos registros que a ciência já conseguiu detectar.
O Serviço de Mudança Climática Copernicus (C3S), da União Europeia, informou que a temperatura média global de julho de 2023 foi de 16,95 °C, a maior observada em qualquer mês desde o início de sua medição em 1940. No caso do Brasil, a temperatura média em julho foi de 22,97 °C, o mês de julho mais quente registrado no Brasil desde 1961 pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Cada meio grau (0,5C°) a mais na temperatura média do planeta corresponde a uma série de mudanças na intensidade e frequências dos eventos climáticos, como ondas de calor e de episódios de seca ou chuvas exacerbadas.
A emissão de gases de efeito estufa produzida pela queima de combustíveis fósseis é a principal causa para esse aquecimento do planeta, seja nos oceanos ou na superfície terrestre. Esses episódios de secas e enchentes também são intensificados pelo El Niño, um fenômeno natural que ocorre em períodos de 5 a 7 anos e traz mais chuvas para a região sul e mais secas para a região norte do país.
Segundo o relatório do INMET publicado em Setembro deste ano, as cheias dos rios da região sul e as secas nos rios da região norte já eram percebidas.
“Observa-se que a Região Sul, notadamente as bacias dos rios Uruguai e Taquari-Antas, experimentaram ocorrências de inundações, com destaque para os eventos de cheia extraordinários observados na bacia do rio Taquari-Antas, com dezenas de perdas de vida e severos danos às áreas urbanas de vários municípios. Já na Região Norte, observa-se diversos rios à margem direita do rio Amazonas em situação de seca, com contínuo e gradual declínio de níveis d’água e impactos sobre a navegação reportados em pontos dos rios Purus, Juruá e Madeira.”
No mês de Outubro presenciamos a pior seca do rio Negro no Amazonas que deixou milhares de pessoas sem acesso a recursos básico como a água ou a atividade de pesca, além da biodiversidade perdida como a morte de bôtos e peixes.
No Rio Grande Sul também tivemos enchentes avassaladoras que tiveram impacto direto na vida das populações indígenas, como foi o caso de famílias do povo Guarani Mbya que tiveram que ser resgatadas pelos bombeiros e deixarem sua comunidade.
Esse relatório do INMET já apontava para as condições de risco dessas regiões, portanto, o que falta para os governos tomarem medidas efetivas de prevenção aos desastres ambientais?
No mesmo estudo também indica que no mês de outubro ocorre o planejamento de preparação para o período chuvoso nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Bahia. Como é feito esse planejamento? Como a população pode se preparar sobre como proceder e qual tipo de suporte deve receber dos governos em situações de extrema vulnerabilidade?
Temos a ciência para nos ajudar a criar estratégias de prevenção, e temos nossa fé, que nos dá força para enfrentar os momentos de maior sofrimento. Além disso, precisamos urgentemente de políticas efetivas e governantes comprometidos para a proteção das populações mais vulneráveis diante desse cenário de emergência climática. Essa ação não é um favor, nem uma bondade, mas um direito.
Julia Rossi – Pesquisadora e redatora da equipe de comunicação do ISER”
Referências
https://portal.inmet.gov.br/uploads/notastecnicas/El-Ni%C3%B1o-2023_boletim-setembro.pdf