O que as árvores têm a ver com essa mudança no clima?
Neste dia da árvore não podemos deixar de falar sobre o desmatamento, um problema mundial que tem afetado o clima e impactado a vida de pessoas em diferentes regiões. Nas últimas semanas foram noticiadas ondas de calor pelo mundo todo, inclusive no hemisfério sul, que ainda está na estação de inverno. Chuvas volumosas têm causado estragos em diferentes locais do planeta e a terra está nos avisando: precisamos agir para a sobrevivência da humanidade e de todos os seres vivos.
A importância das florestas no equilíbrio do clima
As florestas, que são compostas por diferentes espécies arbóreas, são fundamentais para o equilíbrio da temperatura do planeta e estão diretamente ligadas com o ciclo da água. A evapotranspiração, processo que as árvores liberam vapor d’água para a atmosfera, é fundamental para a regulação das chuvas, e por isso o desmatamento pode gerar secas e queimadas em algumas regiões. O aumento da temperatura atmosférica também faz com que haja uma maior evaporação dos oceanos que também favorece a formação de nuvens e consequentemente das precipitações. As árvores também são um mecanismo de defesa nos casos de enchentes, suas raízes contribuem com a absorção da água e com a firmeza do solo, por isso as encostas arborizadas têm menos riscos de sofrer deslizamentos com os grandes volumes de chuva.
Mesmo sabendo dos diferentes benefícios que as árvores nos proporcionam, atividades humanas, como a mineração, a monocultura, a agropecuária e as queimadas ainda são responsáveis pelo desmatamento desenfreado. De acordo com os dados da Universidade de Maryland disponíveis na plataforma Global Forest Watch (GFW), do World Resource Institute, o Brasil é o país com a maior perda de florestas primárias tropicais: apenas em 2022, foi responsável por 43% do total global.
Você sabia que mulheres negras e indígenas são as mais afetadas pelas consequências da crise climática? Hoje, vamos te contar histórias de lideranças negras e femininas que criaram centros de reflorestamento nas áreas periféricas onde vivem, no Brasil ou no Quênia.
Lourdes Brasil: reflorestamento no Centro Gênesis, na Baixada Fluminense
Apesar desse contexto, temos exemplos inspiradores que nos fazem ter esperança na restauração de biomas tão importantes para nossa sobrevivência. Trazemos aqui o caso da Lourdes Brasil, uma mulher negra, brasileira, nascida na Baixada Fluminense, é economista, PhD em Ecologia Social e fundadora do Centro de Educação Ambiental Gênesis. Uma de suas ações mais importantes foi a interrupção do processo de degradação e a recuperação da cobertura vegetal, que constitui atualmente um laboratório vivo e também é espaço de atividades de educação ambiental. O laboratório vivo está instalado em um ambiente físico, no município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e corresponde a uma área verde de 60.000 m², composta por espécies da Mata Atlântica. O local constitui um patrimônio paisagístico, que inclui cerca de 300 árvores nativas do Brasil, ipês de diversas cores, espécies frutíferas e ornamentais.
É importante lembrar que a Mata Atlântica é o bioma mais devastado do país, com apenas 24% da sua cobertura vegetal original conservada. Ela abrange cerca de 15% do território nacional, em 17 estados, é lar de 72% da população brasileira e é responsável por metade da produção de alimentos consumidos no país. Além disso, a Constituição Brasileira de 1988 reconhece a Mata Atlântica como Patrimônio Nacional e é o único bioma brasileiro protegido por uma lei especial, a Lei da Mata Atlântica, que dispõe sobre sua proteção e uso de sua biodiversidade e recursos (Lei n° 11.428, de 2006).
O trabalho do Centro Gênesis liderado por Lourdes Brasil é um exemplo de como a proteção ambiental pode ser aliada com a educação e formar indivíduos atentos e preocupados com essa questão. Mesmo localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro, que é densamente povoada, e com diferentes desafios relacionados às desigualdades sociais, o Centro possibilita a manutenção de um microclima que atenua as ilhas de calor característica dos grandes centros urbanos.
Wangari Maathai. Wangari: reflorestamento no Quênia
Atravessando o oceano atlântico e chegando no leste do continente africano, encontramos outro exemplo marcante de reflorestamento no Quênia, com a história da bióloga Wangari Maathai. Wangari tornou-se a primeira mulher no Leste e Centro da África a ter o título de PhD, e fundou o The Green Belt Movement (Movimento do Cinturão Verde, em tradução livre) em 1977. Diante das secas e dificuldades da população em produzir alimento, ela criou este movimento para formar e empregar pessoas das comunidades quenianas no plantio de árvores. Além de diferentes prêmios e quatro livros publicados, Maathai recebeu o Nobel da Paz em 2004 e, até o dia em que faleceu em 2011, havia mais de 47 milhões de árvores plantadas pelo programa que criou.
Sabe-se que as mulheres negras e indígenas são as mais impactadas pelos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas e que a crise climática é uma crise injusta e atravessada pelo recorte de gênero e raça. Diante da urgência para criarmos ferramentas de enfrentamento à emergência climática, o plantio de árvores, combinado com ações sociais, é uma estratégia fundamental para nossa sobrevivência, e muitas mulheres pelo mundo são protagonistas dessas ações que nos trazem esperanças. Deixamos aqui nossa homenagem a essas e outras mulheres que florestam o mundo e lutam pela justiça climática em seus territórios.
Julia Rossi
Biofísica, Doutoranda em Geografia na PUC Rio e integrante da equipe de comunicação do ISER.
Referências:
https://www.sosma.org.br/causas/mata-atlantica/
https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/ecossistemas-1/biomas/mata-atlantica
https://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=4376
http://www.centrogenesis.com.br/about.html
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=645180
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/26/politica/1519672164_945082.html
https://brazil.unfpa.org/sites/default/files/pub-pdf/unfpa_climate_change_brief_-_portuguese.pdf