Uma nova narrativa evangélica inclui também uma nova narrativa ambiental.

“Abacateiro, acataremos teu ato

Nós também somos do mato como o pato e o leão

Aguardaremos, brincaremos no regato

Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração”

 

Como os evangélicos pensam sobre as questões ambientais? Esta é uma pergunta complexa, já que os evangélicos não são uma massa homogênea e existem diversos jeitos de ser crente. 

Segundo pesquisa realizada pela agência Purpose, com 2.000 evangélicos em todo o país, cerca de 77% dos crentes gostariam que sua igreja apoiasse atividades ambientais. O cuidado com a criação é, no geral, uma preocupação de pessoas de fé cristã. Mais do que isso, pessoas evangélicas também são vítimas de 

Recentemente, no podcast Casa de Muitas Janelas, contamos a história da Igreja Batista de Coqueiral, uma comunidade evangélica que sofreu o peso da emergência climática nas inundações de Recife em novembro de 2022. O espaço da igreja foi invadido pelas enchentes e, nesse processo, perdeu-se grande parte dos equipamentos. Mas mesmo durante a crise, o lugar que inundava serviu como um lugar de acolhimento para as pessoas da comunidade que estavam sendo vítimas das enchentes e já não tinham onde passar as noites de terror. Foram dias de trabalho voluntário, organização de doações, atendimento médico e psicológico para apoiar as famílias no momento que foi uma espécie de fim do mundo para muitos.

Cristianismo e mudança climática

O caso de Coqueiral mostra que uma experiência evangélica engajada com a perspectiva socioambiental é possível. Mais do que possível, é urgente. A mudança climática tem abreviado os dias de comunidades inteiras por todo o mundo. A poluição da terra, do ar e das águas tem gerado intensas consequências para a saúde do nosso povo. 

Um compromisso profundo com o Cristo de Nazaré, que nos ensinou a olhar e admirar as aves e as flores, deve considerar a preservação ambiental, aqui e agora. O modelo capitalista e predatório de produção, que escraviza a terra e as águas, com o garimpo ilegal e grilagem de terras, está longe do ideal do Reino de Deus.

A espiritualidade das florestas tem muito a nos ensinar

No final de julho, participei da imersão na Amazônia com a CreatorsAcademy, uma plataforma que conecta pessoas produtoras de conteúdo aos biomas brasileiros. Foi a primeira vez que eu, criada no interior mas vivendo a cidade, pude adentrar a floresta amazônica. Ficamos uma semana em comunhão com o povo indígena Puyanawa, que vive na região do Juruá, no Acre. Até 1950, os Puyanawa foram escravizados pelo coronel Mâncio Lima, em um processo de intensa violência, separação de famílias e colonização que levou à perda de parte da cultura indígena. Na retomada, guiados pela espiritualidade, o povo indígena resgata a raiz forte que não se perdeu, que se encontra a cada canto, pintura, vivência aprendida e a cada árvore plantada.

Dentro da floresta, encontrei uma espiritualidade que está para além dos templos religiosos. Uma espiritualidade ancestral que se revelou aos povos indígenas por milhares de anos e que tem sido resgatada quase como um milagre. Encontrei, inclusive, pessoas indígenas evangélicas que retomam a cultura e afirmam que nunca vão deixar de ser indígenas por serem evangélicas.

Enquanto caminhávamos com Cíntia Flores, uma mulher indígena que construiu uma pousada na região ribeirinha do Rio Crôa, encontramos a Sumaúma, também chamada de “árvore da vida” ou “criadora do mundo” pelos povos amazônidas. Entendi o significado do salmo que diz que o justo é como a árvore plantada junto a um ribeiro de águas. Povos indígenas são raízes fortes de justiça. 

Na floresta, ouvi de perto o canto de alegria das árvores da floresta, como escrito na Bíblia:

“Regozijem-se os céus e exulte a terra!

Ressoe o mar e tudo o que nele existe! Regozijem-se os campos

e tudo o que neles há!

Cantem de alegria todas as árvores da floresta”

– Salmos 96:11-12

Lutemos pela floresta de pé

Manter a floresta de pé é um desafio. Um mês depois de nossa passagem pela Aldeia Puyanawa, soubemos que parte da floresta no território Ashaninka, na mesma região, estava sendo queimada. 

A destruição da Floresta Amazônica chegou a 10.362 km² em 2021, o que equivale a metade do estado de Sergipe. O que acontece na floresta impacta na cidade, com as mudanças climáticas que sentimos em todo país, nas secas e enchentes, nas epidemias, nos problemas respiratórios.​

As queimadas, o garimpo ilegal, o desmatamento para criação de pastos colocam em risco a vida de pessoas, animais e toda a biodiversidade. Dezenas de comunidades indígenas, inclusive isoladas, estão ameaçadas pelo avanço da mineração em suas áreas, sofrendo ameaças, violência e contaminação. 

Diante disso, como cristãos devem pensar sobre as questões ambientais?

A floresta está nos planos de Deus. A floresta faz parte de nós. A floresta está dentro de mim. Temos muito a aprender sobre os planos de Deus para o mundo com os povos da floresta.

“De cada lado do rio estava a árvore da vida, que frutifica doze vezes por ano, uma por mês. As folhas da árvore servem para a cura das nações.” – Apocalipse 22:2

Erga a voz diante dos oprimidos!

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Luciana Petersen é cristã progressista, feminista negra, coordenadora de comunicação do Institutos de Estudos da Religião (ISER), coordenadora do Novas Narrativas Evangélicas, editora do Projeto Redomas, podcaster no Toda Gente e Redomascast.