Por que uma COP na Amazônia?

“É importante o significado na COP. Não existe nada no Brasil mais falado no mundo do que a Amazônia. Qualquer jovem, qualquer pessoa idosa, qualquer governador, qualquer ministro de qualquer país do mundo fala da Amazônia”. A fala do presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva ressalta um panorama soberano no imaginário da população mundial, a importância da floresta amazônica na regulação da estrutura ecológica do nosso planeta, um sistema vivo capaz de estocar entre 80 e 120 bilhões de toneladas de carbono. Essa mesma infraestrutura ecológica planetária é alvo constante de um sistema que literalmente o consome desenfreadamente, aniquilando ecossistemas fundamentais para a saúde do Planeta. É nesse contexto, uma reprodução local da história Humano-Natureza, que acontecerá um dos eventos mais importantes de 2025, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a famosa COP 30, especificamente na metrópole amazônica de Belém do Pará.

A Conferência das Partes (COP) sobre o clima é um evento onde todos os países membros (ou “Partes”) signatários da Convenção, se reúnem anualmente, desde 1995, por um período de duas semanas, para avaliar a situação das mudanças climáticas no planeta e propor mecanismos a fim de garantir a efetividade da Convenção sobre práticas de mitigação e adaptação aos impactos dessas mudanças no planeta. No final de 2023, um anúncio feito pelo Governo Brasileiro em conjunto com a Organização das Nações Unidas (ONU) surpreendeu o mundo, a Amazônia sediará o maior evento sobre Clima e Meio Ambiente pela 1º vez na história. Desde então, muito se especula sobre a capacidade, e até mesmo a necessidade, de receber um evento como esse em uma metrópole da Amazônia.

Belém enfrenta diversos desafios, principalmente em relação à infraestrutura, um problema comum a muitas cidades no Brasil e no mundo. Uma das grandes preocupações para a realização da COP na cidade está relacionada a essas deficiências. No entanto, os históricos movimentos socioambientais de base locais têm intensificado seus esforços para reforçar a importância de realizar o evento em Belém, destacando a necessidade de que as COPs considerem as especificidades de cada território. Nesse contexto, há um significativo movimento territorial para que a COP 30 promova um novo olhar sobre a Amazônia e suas particularidades, garantindo que a legitimidade e o potencial da região sejam reconhecidos como capazes de sediar uma conferência mundial.

Apesar das inúmeras notícias que sugerem a possibilidade de realocação da COP para outros estados, especialmente os do Sudeste — região que frequentemente hospeda grandes eventos —, tais informações parecem ter o intuito de desmobilizar e deslegitimar a capital amazônica como um território capaz de sediar a 30ª Conferência das Partes. No entanto, mesmo diante dessas incertezas, os movimentos locais mantêm-se extremamente organizados e ativos na promoção de uma forte mobilização popular. Esta mobilização parte do princípio de que uma COP na Amazônia deve contar com a participação ativa dos Amazônidas. Uma das estratégias adotadas é o fortalecimento do conhecimento da população sobre o que é a Conferência e os potenciais impactos dos eventos climáticos extremos. Além disso, há um esforço contínuo para fortalecer a comunidade local, ressaltando a importância de que a Amazônia seja representada por aqueles que verdadeiramente a conhecem.

A realização da Conferência das Partes (COP30) em uma cidade Amazônica não é apenas uma questão de logística ou de visibilidade internacional, mas uma oportunidade essencial para ampliar a potencialidade da região no diálogo global sobre mudanças climáticas. Portanto, é essencial que as vozes da Amazônia sejam priorizadas e ouvidas de forma efetiva, assegurando que sua realidade e desafios sejam corretamente compreendidos e abordados durante a conferência, e dessa forma, promovendo uma maior inclusão em discussões globais e na construção de políticas ambientais que frequentemente ocorrem distantes dos locais mais impactados.

A grande mensagem dita a cada fala amazônida sobre a COP é de que queremos uma COP que represente as Amazônias, tendo Belém como representante de sua pluralidade territorial e de seus povos, onde tenhamos espaço, reconhecimento e possamos desmistificar a visão estereotipada da região, que frequentemente nos alcança de maneira violenta e ignora nossa rica sociobiodiversidade e história de resistência.

Que essa Conferência seja um grande divisor de águas para que as instituições de escala global possam vislumbrar a importância de ampliar espaços democráticos nas regiões mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. É incontestável que a COP 30 deve ser reconhecida e defendida por todos como a COP das Amazônias e para os Amazônidas. Quem é da região já está se preparando para recebê-la, demonstrando a resiliência de um território que muitos tentaram e ainda tentam apagar, mas que continua resistente e permanecerá defendido por seus guardiões.

Por: Waleska Queiroz – Amazônida periférica, Engenheira, Socioambientalista, Ativista Climática, Presidenta da Rede Jandyras e Representante Institucional na COP das Baixadas.