Hoje completamos seis anos da iniciativa Fé no Clima! Nossa missão principal é engajar lideranças religiosas e comunidades de fé na conscientização e ação contra a crise climática. Fazemos isso por meio do diálogo entre cientistas, religiosos, ambientalistas e representantes de povos originários, com objetivos de conscientização, adaptação, resiliência e justiça climática.
Nesse mesmo mês de agosto de 2021, foi publicado o 6º relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que é uma entidade criada em 1988 pela ONU e reúne cientistas do mundo inteiro para produzir regularmente relatórios de avaliação sobre as mudanças climáticas.
O relatório confirma, a partir dos inúmeros estudos científicos, que a ação humana é a principal causa do aquecimento global, que está apontando para um cenário de emergência climática. Diante desse contexto, qual a pertinência de iniciativas como o Fé no Clima, que busca relacionar proteção ambiental com as crenças e espiritualidades?
O ambientalista e parceiro do Fé no Clima, Sérgio Besserman, traz uma importante reflexão quanto a isso:
“A crise climática destrói a natureza existente no planeta do nosso tempo, vitimiza os vulneráveis de forma impiedosa, traz um risco para a civilização. Enfrentá-la não é apenas, e nem principalmente, uma questão tecnológica, e sim humana, no sentido da consciência, empatia e compaixão. Sem as forças da espiritualidade, das comunidades de fé engajadas nessa luta e transformação histórica, as chances da humanidade para enfrentar o desafio são muito menores e o que virá tem menos chances de ser um mundo melhor.”
Pastor Ariovaldo, um dos membros fundadores do Fé no Clima, também coloca que “nenhuma espiritualidade saudável, principalmente após o relatório do IPCC, poderá omitir de sua mística e prática o dever de salvar o planeta. Logo, toda espiritualidade terá como prioridade despertar a consciência humana quanto ao nosso débito para com a casa comum”.
Para o Pe. Josafá Siqueira, também membro fundador do Fé no Clima: “humanamente temos que reconhecer a nossa imensa responsabilidade nestas mudanças planetárias, com a consciência que ainda é possível buscar alternativas sustentáveis para minimizar esse grave problema que afeta a nossa casa comum”.
Sobre o enfrentamento da crise climática, a ex-ministra do meio ambiente Izabella Teixeira também ressalta os valores do humanismo como ferramenta fundamental dessa luta:
“Lutar contra a crise climática envolve emprestar ao mundo mais solidariedade, nós temos que ter um pragmatismo, um realismo planetário e entender que a sociedade está toda conectada porque o planeta é um só.(…) Nós somos capazes de construir soluções a partir de uma nova expressão do humanismo, independentemente das nossas crenças, fés e etnias, precisamos agir com a firme convicção de que precisamos ter uma nova relação com a natureza, mais construtiva, mais justa e sustentável. Reconhecendo seus erros e buscando os acertos.”
A jovem umbandista, cientista política e ativista ambiental, Rayanna Burgos, traz também mensagens de esperança e de incentivo para esse caminho para novos rumos:
“Nós, seres humanos, somos os maiores responsáveis pela crise climática. Mas diante desse cenário, não devemos ter medo. Temos que agir com coragem, porque a nossa fé é destemida. Aprendemos desde cedo a ter um olhar holístico sobre a vida e acreditamos na lei da ação e reação – repetir o comportamento do passado não vai nos levar a um novo futuro. Por isso, temos que defender o planeta e os nossos Orixás com novos comportamentos e perspectivas. Sabemos que o som do nosso batuque costuma anunciar o novo tempo, e para enfrentar a crise climática, o novo tempo deve começar agora! Sigamos em frente. Que Oxalá nos guie!”
Esses depoimentos, tão realistas e inspiradores, apontam os desafios e a potência do trabalho do Fé no Clima, que seguirá firme na mobilização e no engajamento de diferentes visões e espiritualidades pelo enfrentamento à crise climática.
Por ocasião dos seis anos de nossa caminhada coletiva, gostaríamos de celebrar e agradecer parceiros e parceiras, religiosos e religiosas, cientistas e ambientalistas, juventudes e as demais gerações que contribuem para a construção de um mundo mais justo e sustentável. Essa rede tão potente de pessoas e organizações mostra a importância do esforço coletivo e coordenado, urgente e contínuo, insistente e incansável pela proteção do que há de mais essencial e mais sagrado, que é a vida na Terra, na nossa Casa Comum.